‘Oficiais que se consideravam cavalheiros abateram pessoas perfeitamente inocentes’

Nascido no ano em que a Segunda Guerra Mundial terminou, 1945, Max Hastings cresceu a ouvir no seio da sua família memórias do conflito. “Diziam-me que eu tinha tido muito azar por não ter assistido à Segunda Guerra, porque foi uma aventura gloriosa”. Hoje é um dos mais reputados historiadores britânicos. Especializado em assuntos militares,…

No ano em que se assinala o centenário do início da I Guerra Mundial, acaba de ser editado em português a sua obra Catástrofe: A Europa Vai à Guerra, 1914 (Vogais). Em entrevista exclusiva ao SOL, que poderá ler na íntegra na Tabu da próxima sexta-feira, Max Hastings recorda como começou a sua carreira há 50 anos realizando entrevistas aos veteranos do conflito de 1914-18 para um grande documentário da BBC, e revela a sua experiência como repórter de guerra: “Penso que, ao todo, estive em 11 conflitos e aprendi o que se sente no campo de batalha. Lembro-me particularmente do Cambodja em 1970. Se estamos deitados numa vala ao lado da estrada e sabemos que a estrada está sob fogo mas temos de a atravessar, é incrivelmente difícil convencer as pernas a mexerem-se”.

Em Catástrofe, Hastings tentou colmatar algumas falhas que detectou na literatura sobre o assunto. “O que tento fazer sempre nos meus livros é pensar ‘O que posso dizer às pessoas que elas ainda não saibam?’. Todos os livros sobre a Grande Guerra que li quando era novo, falavam muito sobre a frente ocidental, mas não prestavam muita atenção ao que aconteceu na Sérvia e na Rússia. A Sérvia perdeu um milhão de pessoas nesta guerra. Para mim, as experiências do povo sérvio são absolutamente fascinantes, mas não há muitas pessoas que saibam disso”.

O historiador não hesita em dizer que a guerra, em geral, é um “negócio bárbaro”. E a I Guerra Mundial não escapa à regra: “O exército alemão comportou-se de forma hedionda. É horrível pensar que certos oficiais prussianos que se consideravam cavalheiros abateram ou enforcaram 4.300 belgas perfeitamente inocentes”.

jose.c.saraiva@sol.pt