Cravinho pede inquérito parlamentar

As reacções ao caso BES sucedem-se no meio político. Todos reconhecem a teia de influência de Ricardo Salgado. A surpresa com o colapso do Grupo Espírito Santo foi geral e pedem-se explicações. 

O ex-ministro do PS, João Cravinho, defende mesmo que se faça uma comissão parlamentar de inquérito ao que se passou no BES. “O Parlamento deve fazer um inquérito. Se não o fizer, fica muito aquém das suas responsabilidades”, afirma ao SOL. 

Cravinho, que em 2006 criou um plano anti-corrupção, considera que a situação do BES “está muito carecida de informação” e que “tem que haver uma explicação pública sobre como se chegou a este ponto sem que o Banco de Portugal ou a CMVM tivessem tomado medidas para informar os investidores para não irem ao engano”. 

O socialista reconhece que o BES “era um Estado dentro do Estado” e que a “interacção com a política era mais que evidente”. À porta fechada, toda a gente parece saber das ligações entre políticos e Ricardo Salgado, mas poucos são os que as trazem a público. Fê-lo, por exemplo, Miguel Pais do Amaral ao dizer que a amizade de Marcelo Rebelo de Sousa com Ricardo Salgado frusta as suas ambições presidenciais.

Já Pacheco Pereira lançou o tema do financiamento dos partidos e afirmou, na SIC Notícias, que é preciso explicar “a facilidade com que Ricardo Salgado acedia ao poder político, a fazer governos e a derrubar governos, a fazer políticos e a derrubar políticos”.

O timing da detenção de Salgado pontuou algumas reacções. “Curiosamente, só é detido depois de deixar de ser presidente do BES e de o Grupo ter entrado em falência”, notou o ex-líder do BE, Francisco Louçã. Bem como o centrista António Lobo Xavier, que referiu que o processo poderia ter sido feito sem tanta espectacularidade mediática. 

'É um sinal de confiança'

Para a ex-ministra das Finanças Manuela Ferreira Leite a detenção de Salgado não deve agradar aos portugueses, disse na TVI24, porque o país precisa de “grandes grupos económicos” e porque a “queda de um todo-poderoso” significa que andamos enganados sobre as pessoas que alegadamente têm influência na sociedade. Já o ex-líder do PSD Marques Mendes considerou que “a Justiça funcionou” e que este é “um sinal de confiança para as pessoas”. 

Passos Coelho ainda não se pronunciou sobre o caso BES, mas o deputado do PSD, Duarte Marques, elogiou o primeiro-ministro por ter recusado ajudar Ricardo Salgado, em Junho, quando este pediu para que fossem viabilizados empréstimos da Caixa às holdings do Grupo Espírito Santo. 

Entre os comentários ao caso BES, também há quem defenda que agora que Salgado caiu em desgraça, é fácil dar pontapés. “Atacar Ricardo Salgado é uma espécie de desporto nacional. Há mesmo disputas para ver quem o atacou mais cedo”, considerou Miguel Sousa Tavares, que está ligado à família Espírito Santo (a filha do jornalista é casada com o filho de Salgado). 

sonia.cerdeira@sol.pt