A arte dos bancos

Há coisa de cinco anos, talvez um pouco mais, propus-me escrever aqui para o SOL uma reportagem sobre as colecções de arte dos principais bancos portugueses. Para isso, pedi alguns contactos a um colega da secção de Economia, de forma a solicitar as autorizações necessárias e pôr o processo em movimento. 

Ele enviou-me os telefones dos assessores de comunicação da CGD, do BCP e do BPN, pois eu tinha curiosidade de ver os Mirós de que se falava. Só que entretanto rebentou o escândalo que se sabe e esse último contacto ficou obviamente sem efeito.

Passado pouco tempo tive luz verde para visitar a sede do BCP na Rua Augusta. Trata-se de um edifício pombalino com o interior impecavelmente remodelado no melhor estilo contemporâneo. Fui muito bem recebido pelo responsável pela colecção, ele próprio pintor, que me mostrou belas peças de mobiliário e quadros de artistas reputados, como uma obra de Columbano que pertenceu ao Rei D. Carlos. Na altura não pude deixar de reparar também em pormenores marginais, mas para mim reveladores, como os gráficos de cotações das bolsas a mudar a cada instante nos ecrãs dos computadores. E delirei como uma criança com o facto de o elevador só andar quando se inseria numa ranhura um cartão tipo multibanco.

A segunda colecção que visitei foi a da CGD, na sede da Av. João XXI. Considerado por muitos uma espécie de ‘elefante branco’ e objecto de polémica aquando da sua inauguração, o edifício não é seguramente dos que mais me atraem. Percebi, no entanto, que a colecção de arte do banco do Estado foi orientada com critério e coerência, privilegiando-se sempre os criadores portugueses.

Mais recentemente, já em 2011, fui acolhido por Alexandra Pinho, a directora do BES Art, no Marquês de Pombal. Com nomes de primeira água como Andreas Gurski, Jeff Wall, Cindy Sherman e Thomas Struth, trata-se talvez da melhor colecção de fotografia contemporânea em Portugal, e de uma das colecções de referência na Europa.

Curiosamente, o espaço onde está armazenado o acervo não podia contrastar mais com as instalações da administração. Fez-me lembrar uma garagem ultra-sofisticada, enquanto o 15.º e último piso do edifício da Rua Barata Salgueiro possui uma decoração muito convencional, com tapetes orientais, mobiliário de estilo império e pinturas de mestres flamengos. Concluí que cada ambiente deve reflectir os gostos e os valores de quem nele trabalha.

Infelizmente, apesar da minha vontade e da disponibilidade de quem teve a gentileza de me receber, ao fim de todos estes anos a reportagem continua por concluir. Além disso, três dos quatro bancos que inicialmente tinha pensado visitar atravessaram crises gravíssimas. OBES, o último onde estive, é apenas o caso mais recente.
Não quero deitar a toalha ao chão e por isso continuo a guardar os apontamentos que tomei na altura. Mas começo a ficar com sérias dúvidas se este trabalho não poderá estar embruxado. 

jose.c.saraiva@sol.pt