Carlos Costa fala em “pacto de silêncio”

O Governador do Banco de Portugal nunca referiu nomes, mas ao longo da audição de hoje, no Parlamento, deixou críticas implícitas à anterior administração do BES e à auditora interna, a KPMG, falando mesmo num “pacto de silêncio” entre auditores e auditados. 

Carlos Costa fala em “pacto de silêncio”

O CDS aproveitou a deixa e afirmou que “é urgente agir” para fazer alterações ao modelo que está em vigor.  

Durante a audição, que durou mais de três horas, Carlos Costa foi deixando acusações à anterior administração do BES e à KPMG, embora nunca mencionando os seus nomes. “Toda a lógica de regulação de um banco assenta na fiabilidade, na veracidade da informação. (…) O problema é quando as duas partes estão de acordo em mascarar as contas”, disse. E notou que “os problemas só tendem a verificar-se com mudanças de administração”. 

“Só se pode regular quando há mudança de administração. É aí que se encontram ondas, que podem ser mais ou menos extensas. No dia 18 de Julho não podia suspeitar de nada porque nada era conhecido. No dia 25 de Julho havia uma ligeira percepção do problema. Só a 28 ou 29 de Julho veio a ser quantificado”, explicou. 

Por isso, Carlos Costa pediu mudanças. “Não há uma supervisão eficaz sem um bom modelo de governo, sem um bom auditor interno, sem um bom auditor externo e sem um bom regulador. As quatro peças têm de estar alinhadas”, precisou. Na opinião do Governador do Banco de Portugal, o modelo de governo dos bancos e das auditorias internas e externas têm que ser reforçados porque só assim pode haver “uma boa supervisão”. 

No início da audição, Carlos Costa já se tinha justificado com as “ocultações de informação” que dificultaram as auditorias e propôs mudanças a este nível. “A auditoria das contas tem que ser matéria de responsabilidade pública”, sublinhou.

Para o Governador do Banco de Portugal, há “conflitos de interesses” porque quem paga aos auditores é quem está a ser auditado. “À mulher de César não deve só ser como parecer e por isso o ideal é que o mercado pagasse o trabalho de auditoria”. 

Na segunda ronda de perguntas, o CDS aproveitou para partir para o ataque. A deputada Cecília Meireles disse mesmo ter dificuldade em perceber “qual o resultado real desta auditoria”, uma vez que este não foi o primeiro caso, “nem tampouco o segundo”, deste género. “É urgente agir”, concluiu. 

Já o deputado do PCP, Miguel Tiago, foi mais longe: “Não há maneira de ver a trafulhice que se fazem dentro dos bancos, foi isso que o senhor Governador veio dizer, com outras palavras”.

sonia.cerdeira@sol.pt