EUA de regresso à guerra no Iraque

Barack Obama deu o OK na noite de quinta-feira: aviões da força aérea norte-americana começaram a bombardear alvos do Estado Islâmico do Iraque e Levante (ISIL na sigla inglesa), grupo de extremistas sunitas que combatem as forças do Governo xiita de Bagdade e as minorias curdas e cristãs no Norte do Iraque.

EUA de regresso à guerra no Iraque

“A Força Aérea atacou a artilharia do ISIL. A artilharia fora usada contra forças curdas que defender Erbil, próximo de militares dos EUA”. Foi assim que o almirante John Kirby, porta-voz do Pentágono, confirmou no Twitter o regresso das tropas norte-americanas às batalhas no Iraque, três anos depois da retirada total decretada pelo Presidente Obama e onze anos após a invasão de George W. Bush.    

“O Presidente já deixou claro que os EUA recorreriam à força militar para atacar directamente o ISIL quando estes ameaçam as suas forças ou bases”, acrescentou o mesmo almirante. Já Ben Rhodes, conselheiro presidencial para assuntos de segurança nacional, explicou que “o facto é que há norte-americanos em Erbil e se esta cidade cair elas ficarão em risco”.

Embora as suas próprias forças sirvam para justificar oficialmente a operação, as palavras do próprio Presidente mostram que o objectivo é mais abrangente: “Quando há milhares de civis inocentes em perigo e nós temos a capacidade de ajudar, avançaremos”, disse Obama, que acrescentou que “a pedido do Governo iraquiano” do xiita Nouri al-Maliki, os EUA também iniciaram “operações para ajudar a salvar civis iraquianos presos nas montanhas”.

Referia-se a membros da minoria religiosa Yazidi, uma facção curda que os terroristas sunitas como “veneradores do diabo”. É uma das comunidades que mais sofreu com o mais recente avanço do ISIL – ao contrário do que aconteceu no início do conflito, quando os sunitas encontraram muito mais resistência entre os curdos e por isso avançaram mais em território xiita, agora o ISIL conseguiu ganhar terreno a Norte.

Com a chegada de grandes números de militantes do ISIL à região, cerca de 40 mil membros da comunidade yazidi foram obrigados a fugir da região de Sinjar, refugiando-se numa região montanhosa onde não têm acesso a electricidade ou água. Foi nesses montes que os aviões norte-americanos lançaram hoje kits com bens de primeira necessidade.

Antes da ajuda de Washington – que o Governo de Maliki já disse ter chegado “no momento certo”, enquanto as autoridades da região autónoma curda já agradeceram formalmente a Obama –, Vian Dakhil, um yazidi que é deputado em Bagdade, tinha feito um discurso emocionado no Parlamento denunciando “o extermínio de toda uma religião”. 

A perseguição às minorias étnicas por parte dos extremistas não se fica por aqui. Depois de conquistarem, na quarta-feira, a cidade que alberga a maior comunidade cristã no Iraque, Qaraqosh, os líderes do ISIL ameaçaram chacinar todos os que recusassem uma conversão imediata ao Islão. Mais de metade da população abandonou as suas casas, avança uma ONG cristã, agravando assim uma crise de refugiados cristão que já levou mais de 600 famílias iraquianas até à capital libanesa de Beirute.

 

nuno.e.lima@sol.pt