João Semedo: ‘A cada dia que passa, o BES mais parece um BPN’

O coordenador do Bloco de Esquerda, João Semedo, disse ontem que a situação do Banco Espírito Santo (BES) cada vez mais se assemelha à do Banco Português de Negócios (BPN) e que há “perigos reais” para os contribuintes.

João Semedo: ‘A cada dia que passa, o BES mais parece um BPN’

"Há muitas semelhanças ou podemos até dizer que cada dia que passa o BES mais parece um BPN. E mais parece um BPN porque nos lembra o mesmo gangsterismo financeiro, as fraudes, as burlas, as contas marteladas, a ocultação dos buracos, o desrespeito pelas normas e regras e orientações e determinações do Banco de Portugal. Tudo isso se passou no BPN e já se sabe que está a passar no BES", afirmou o coordenador do Bloco de Esquerda (BE) durante um comício em Portimão.

Durante a intervenção, que durou pouco mais de 10 minutos, João Semedo salientou que o caso do BES "distraiu as atenções", uma vez que "o Governo tem continuado a cortar nos apoios sociais e, portanto, com tanta rapidez se acode à banca falida quando nada se faz com aqueles que vivem em grandes dificuldades".

O coordenador do BE acusou ainda o Banco de Portugal de "miopia", "inércia" e "falhanço", tendo acordado "tarde e a más horas".

"Também o BES nos lembra o BPN na promiscuidade política entre a política e os negócios, entre a banca e o poder político, entre os banqueiros e os governantes. Há uma ligeira diferença: no caso do BPN eles saltaram do Governo de Cavaco Silva para a administração do banco. No BES foi diferente, foi ao contrário, saltaram da administração do banco para vários governos", frisou João Semedo.

Desta forma, o dirigente do BE realçou que "tresanda a uma promiscuidade que empobrece e mutila a democracia".

João Semedo questionou ainda: "E querem-nos convencer de que o novo banco, que tem 80% de capital público, 20% de capital privado, não põe em risco o nosso dinheiro, não põe em risco as contas públicas, não põe em risco os contribuintes?"

"Desejamos que tudo corra pelo melhor, mas não nos iludimos sobre os perigos reais que há para as contas públicas e para os bolsos dos contribuintes", disse o coordenador do BE.

Os quatro principais bancos a operar em Portugal garantem os mais de 600 milhões de euros de financiamento da banca ao Fundo de Resolução, que servirão para capitalizar o Novo Banco.

O Banco de Portugal tomou controlo do BES este domingo e anunciou a separação da instituição num banco mau ('bad bank'), que concentra os activos e passivos tóxicos, e num 'banco bom', o chamado Novo Banco, que reúne os activos e passivos não problemáticos, como será o caso dos depósitos e que receberá uma capitalização de 4,9 mil milhões de euros do Fundo de Resolução bancário.

O Fundo de Resolução, financiado pelas contribuições dos mais de 80 bancos com actividade em Portugal, foi criado em 2012 para intervir financeiramente em bancos em dificuldades, aplicando medidas determinadas pelo Banco de Portugal.

Lusa/SOL