Eu disse adeus ao meu lugar cativo de estacionamento ‘à porta’ da praia logo na última semana de Julho. De agora em diante, como os demais veraneantes, passarei a dar voltas e voltas até conseguir arranjar um buraquinho para estacionar o carro e poder ir a banhos.
As praias, até há pouco tempo praticamente desertas, enchem-se agora de famílias vindas de todos os lados, com elementos de todas as faixas etárias, carregadas com todo um arsenal próprio para uma estadia prolongada.
Às ‘tias da Comporta’ juntam-se os emigrantes e os turistas estrangeiros. É a unidade na diversidade. Faltam os habitantes locais, mas esses estão a trabalhar. Agosto é mês de trabalho para os alentejanos. Os que tiraram férias não ficaram por aqui. E são poucos os que se escapam para a praia sempre que podem, entre os quais me incluo. Prática que já vem de Lisboa…
A extensão de costa que vai da Comporta à Aberta Nova é das mais concorridas. Eu recomendo sempre a Comporta a quem vem turistar. A aldeia em si faz lembrar o Algarve nos idos anos 80, mas é famosa no estrangeiro. Tem gente conhecida, bares e esplanadas com pinta. A maior parte das pessoas parece gostar. Mas há duas semanas uns amigos da Holanda não vieram muito satisfeitos. Parece que havia imensa gente no areal e tudo a beber champagne. Eles acharam aquilo esquisito e nem pensaram duas vezes antes de mudarem de ares. E o que diriam eles se em vez do champagne fosse a panela com o arroz de tomate e o garrafão de vinho tinto?
Eu gosto das ‘tias’. Ou, no caso, das que frequentam a praia da Aberta Nova. Acho-as preferíveis à juventude que vai a banhos nas praias da Linha. Tirando o chamamento das crianças em modo fanfarra do exército, e o espaço que ocupam na areia com a criançada, a família alargada e os amigos, é seguro dizer que, pelo menos, não seremos incomodados por bolas a voarem constantemente na nossa direcção.
É certo que, na semana passada, uma bola saída de uma raqueta voou por cima da minha cabeça e aterrou a milímetros da toalha. Mas logo a seguir veio um pedido de desculpas e a promessa de que iriam jogar para mais longe. Por outro lado – e graças à mania tão portuguesa de nos sentarmos todos muito juntinhos – é possível saber quem, mesmo tendo aberto falência, foi esquiar para os Alpes. Ou quem não dá férias à empregada. Ou ainda quem se divorciou e ficou na penúria.
Depois, há os emigrantes que chegam a falar francês. Se não estiverem perto dos carros, é só um bocadinho mais difícil adivinhar se são portugueses ou não. Mas as dúvidas até dão um jogo de praia quase tão bom como o Trivial Pursuit – pelo menos até o francês ser substituído por uma pronúncia do Norte carregada.
Os turistas estrangeiros são os mais bem-dispostos. Sempre prontos para um dedo de conversa e para partilharem as aventuras das férias, ficam fascinados com as coisas mais banais e aceitam as dificuldades com um sorriso.
Agosto é um prato cheio. Por mim, podia ser Agosto grande parte do ano.