Morreu o general Pires Veloso, o “vice-rei do Norte”

O general António Pires Veloso, um dos protagonistas do 25 de Novembro de 1975 e que naquela década ficou conhecido como “vice-rei do Norte”, morreu este domingo no Porto, disse fonte oficial do Estado-Maior do Exército português.

Enquanto governador militar do Norte foi um dos principais intervenientes no contragolpe militar de 25 de Novembro, que pôs fim ao “Verão Quente” de 1975.

Desde o primeiro momento que o mandato de Pires Veloso na Região Militar Norte foi marcado pela instabilidade: quem passa pela Praça da República, no Porto, dificilmente imagina que um chefe da Região Militar Norte (RMN) tivesse de tomar posse do seu quartel-general rodeado metralhadoras, mas foi isso que aconteceu em 12 de Setembro de 1975 com Pires Veloso.

O oficial, acabado de regressar de S. Tomé e Príncipe, onde hasteou a última bandeira portuguesa, soube na véspera, dia 11, que iria substituir o coronel Eurico Corvacho à frente da RMN.

A RMN inicia então um programa intenso de acção social, política e cívica em todo o Norte, cedendo terrenos e dando apoio logístico a inúmeras instituições da região – é o caso do espaço onde a Universidade do Minho foi construída, em Braga.

Todo este trabalho e a vitória no 25 de Novembro deram a Pires Veloso o poder suficiente para rapidamente ser chamado de "vice-rei do Norte".

Em 1980, candidatou-se à Presidência da República como independente, numas eleições nas quais foi reeleito Ramalho Eanes.

Em 2006, no dia 25 de Abril, foi agraciado com a Medalha Municipal de Mérito pela Câmara Municipal de Porto, à data presidida por Rui Rio, pelo seu "desempenho militar" e "papel fundamental na consolidação da democracia nacional durante o período em que comandou a Região Militar do Norte".

A 25 de Novembro de 2008 lançou um livro de memórias, "Vice-Rei do Norte, Memórias e Revelações", escrito da mesma forma que viveu a sua vida: "sem papas na língua e olhos nos olhos".

 

 

Em Novembro de 2012, em entrevista à Lusa, disse haver “um paralelismo entre a situação actual e o Verão Quente de 1975, que terminou no 25 de Novembro”.

“Há um certo paralelismo entre a situação socio-económica de agora e os dias tormentosos de 1975. Agora, desenrola-se uma luta, que envolve de um lado um povo trabalhador, sacrificado, paciente, orgulhoso de ser português, e do outro um conjunto de governantes rodeados de pessoas dos partidos políticos e outras cujo comportamento nos leva a admitir que existe um conluio nebuloso entre eles, esquecendo por completo os ideais de Abril”, disse na altura.

Para Pires Veloso, os ideais do 25 de Abril “foram deturpados pelas elites totalitárias da extrema-esquerda, gerando um clima de pré-guerra civil e um caminho altamente perigoso que seria corrigido no 25 de Novembro, com a união de esforços de militares e da esmagadora maioria da população, enquadrada pelos partidos democráticos”.

Pires Veloso era irmão mais novo de Aureliano Veloso, o primeiro presidente da Câmara Municipal do Porto eleito democraticamente após o 25 de Abril de 1974, e tio do cantor Rui Veloso.

SOL/Lusa