O biscate…

As recentes eleições europeias proporcionaram farto argumentário para as habituais disputas paroquiais, com relevo para António Costa, que se viu legitimado com a ‘vitória pequenina’ do PS para avançar contra Seguro, e para Marinho Pinto, a quem logo foram atribuídas carismáticas virtudes, que o deixaram em ferverosa autocontemplação.

De António Costa está tudo dito, somando banalidades e promessas estivais, já esquecido do autarca que Lisboa elegeu com imprudência. Faltará apenas saber o que fará se, nas primárias socialistas, obtiver uma ‘vitória pequenina’ ou se for derrotado por uma margem ‘pequenina’… 

Se exceptuarmos, por misericórdia, o afundamento do Bloco de Esquerda – uma ficção mediática da qual Louçã fugiu pela porta dos fundos –, o caso de Marinho Pinto foi o que excitou mais a comunidade bem-pensante, pelos votos alcançados, em nome de um partido obscuro. 

Com este ‘casa alugada’ do MPT-Partido da Terra, o ex-jornalista e ex-bastonário da Ordem dos Advogados – que militou nas Juventudes Comunistas e hoje senta-se entre os liberais do Parlamento Europeu (rejeitado ironicamente pelos Verdes) –, prometera na campanha ser uma ‘formiguinha’ no eixo Bruxelas-Estrasburgo.

A julgar pela sua recente entrevista ao JN, o novel eurodeputado já se cansou desse papel e ambiciona aproveitar a sua boa estrela para horizontes mais rasgados. 

Menos de três meses após ter sido eleito, Marinho Pinto, num exercício premonitório, ao primeiro contacto com os corredores de Bruxelas teve a graça de uma visão e confessou: «Saio menos europeísta do que entro». E, predestinado, anunciou a renúncia ao mandato em 2015, para concorrer às legislativas e, até, às presidenciais. Nada menos.

Tocado por um sopro de profeta, apercebeu-se ainda que «os problemas nacionais são mais graves do que os europeus», e que «o elemento agregador da Europa não está nos ideais, nem nas políticas, mas no dinheiro». 

Por isso, e não querendo seguir as pisadas de Durão Barroso, a quem tratou por ‘mordomo da Europa’, Marinho Pinto, na mesma linha conceptual, não quis, talvez, para si, o papel de ‘fâmulo’. À cautela,  porém,  decidiu  ficar  em  funções por um ano, porque «eu sou pobre, preciso do dinheiro, tenho uma filha no estrangeiro». Pungente.

Sabia-se, há muito, que Marinho Pinto precisava de palco para existir. Cedo verificou que o uso de um verbo afiado e de palavras tonitruantes passavam bem nos media. Ganhou estatuto para ser eleito bastonário, com o apoio dos ‘descamisados’ da profissão, que são muitos, oriundos da pulverização dos cursos de Direito. Os mesmos que elegeram a sucessora, escolhida a dedo por ele. 

Entre Marinho Pinto e Francisco Louçã sobejam os pontos de contacto. Ambos designaram ‘herdeiro’ e ambos foram promovidos pelos media. A diferença está no estilo, entre o trauliteiro e o monástico. Com este lastro, ambos prometem salvar a Pátria, embora não sabendo como. 

Para o (ainda) eurodeputado do Partido da Terra, Estrasburgo é um biscate bem pago. Para o reassumido professor de Economia, a cátedra afaga-lhe a plumagem chamuscada pelo Bloco. Ambos carecem de palco. O país gosta de artistas.
Nota: Este Pátio das Cantigas fecha hoje para férias. Reaparece a 5 de Setembro. Até lá.