Indies do mundo unidos em Paredes de Coura

Os festivais de música tendem cada vez mais para a especialização e Paredes de Coura terá sido o primeiro a construir uma identidade sólida, mais aventureira nas escolhas do que a concorrência. Este ano não foge à regra: os escoceses Franz Ferdinand (na próxima quinta-feira) são a ponta mais pop do evento, que depois resvala…

«Penso que conseguimos um dos cartazes mais coerentes de sempre. As pessoas já sabem que para uma banda estar em Paredes tem de ter qualidade», afirma ao SOL o director João Carvalho, da Ritmos. Courense de gema, o responsável relembra que o evento acontece desde 1993, no seu «quintal das traseiras», onde se estrearam em Portugal bandas como Arcade Fire ou Queens of the Stone Age. A aposta em nomes de maior risco tem compensado e hoje o festival tem a fama de ser um espaço de descoberta.

A venda antecipada de bilhetes decorre a bom ritmo, com «praticamente o dobro» dos números de 2013. A ajudar à festa está um programa especial de recepção aos festivaleiros, já a partir deste sábado, dia 16, com uma récita de Chão (espectáculo das Comédias do Minho que junta cantadeiras courenses a Adolfo Luxúria Canibal, António Rafael e Miguel Pedro, dos Mão Morta), no Centro Cultural. Depois, até ao arranque oficial (na quarta-feira, 20 de Agosto), a avenida principal de Paredes de Coura recebe oito actuações de bandas e DJ nacionais.

20 mil pessoas por noite

«Há uma grande ligação com a vila e há lojas que só não fecham por causa do movimento que geramos todos os anos. Temos provavelmente o mais fiel dos públicos, por isso programámos estes quatro dias-extra, fora do recinto, que até podem fazer com que as pessoas cheguem com menos dinheiro ao festival. Mas nada me dá mais prazer do que ver Paredes de Coura cheia», confessa João Carvalho.

Obviamente, o prato forte são os concertos na praia fluvial do Tabuão, entre os dias 20 e 23, e se a já tradicional chuva não aparecer são esperadas cerca de 20 mil pessoas por noite, num festival orçado em cerca de três milhões de euros. A elevada afluência esperada na tradicional recepção ao campista (no dia 20) faz com que estes concertos sejam, pela primeira vez, desviados do palco secundário para o principal. A fusão de géneros de Janelle Monáe (soul, R&B, funk e rock cabem no mesmo caldeirão) será o ponto alto da jornada e pode constituir uma surpresa para muitos festivaleiros, mesmo que esta não seja a sua primeira actuação em Portugal. Na despedida, a 23 de Agosto, há mais dois destaques: a folk tantas vezes nostálgica de Beirut, inundada pelos sons dos Balcãs, e a presença do cantautor (e cabeça de cartaz) James Blake, que consegue como ninguém dar alma soul a uma electrónica geneticamente fria.