As burlas mais insólitas

Há quem se faça passar por guia turístico só para assaltar turistas.   Em Fevereiro deste ano, um turista asiático foi abordado, em inglês fluente, por um homem que se deslocava numa viatura e lhe propôs uma visita pelos locais mais emblemáticos de Lisboa. Sem imaginar o que se seguiria, aceitou. Momentos depois, o guia…

Trata-se de um novo esquema de burla descoberto pelas autoridades em finais de 2011. Só este ano, na cidade de Lisboa, a PSP já registou cinco casos destes. 

“À semelhança de outros crimes praticados contra estrangeiros que visitam o nosso país, os burlões tiram proveito do facto de muitos turistas transportarem elevadas quantias em dinheiro”, explica ao SOL fonte oficial da PSP, admitindo que a dimensão real deste fenómeno é desconhecida, pois muitas vítimas não fazem queixa. 

Há, porém, burlões mais agressivos. Recentemente, foi identificado na área metropolitana de Lisboa um grupo de suspeitos que se deslocam num carro e coagem outros condutores a pagar-lhes certas quantias, alegando que lhes causaram danos na viatura. 

Este ano, a PSP tem registo de duas situações deste tipo. No ano passado, numa via rápida de Lisboa, um condutor apercebeu-se de que o carro atrás de si lhe fazia sinais de luz continuamente. Julgando que ia em marcha de urgência, encostou para deixá-lo passar; nesse momento, porém, a outra viatura parou e do interior saíram quatro homens, que se lhe dirigiram de forma intimidatória, queixando-se de que o pára-brisas do carro acabara de ser atingido por uma peça que se soltara da sua viatura. Fazendo-se valer do facto de serem quatro homens, exigiram-lhe na hora que pagasse 150 euros. O condutor pediu então para contactar a sua seguradora e, nesse momento, os suspeitos baixaram o valor para 100 euros. A vítima acabou por aceitar, “na perspectiva de não ter de comunicar à seguradora, evitando custos de maior valor”, explica fonte da PSP, esclarecendo que estão em causa “burlas antigas que têm ressurgido com novas abordagens e modus operandi”.

Os idosos são geralmente a presa mais fácil – e assim é também para muitos burlões que se dedicam a vender tapeçaria. A abordagem é feita porta-a-porta: quando a vítima abre, é aliciada por um casal que lhe mostra uma série de tapetes, à primeira vista persas. 

No ano passado, um septuagenário foi abordado à porta de casa por um casal que lhe propôs comprar tapetes persas que dizia custar habitualmente 1.400 euros, mas que estava disposto a vender por metade do preço. A vítima aceitou e pagou 700 euros, em cheque. Só que os burlões falsificaram o cheque e conseguiram levantar nove mil euros. E só mais tarde é que o idoso descobriu que  comprara gato por lebre, ou seja, uma imitação de valor muito inferior ao apregoado. 

O golpe dos trocos

“Esta modalidade”, sublinha a mesma fonte da PSP, “não é mais do que uma adaptação de burlas antigas”: “O objectivo é convencer as vítimas de que estão perante objectos de marca e valor, quando são artigos comuns de valor bem mais reduzido”.

Até os comerciantes mais experientes podem ser enganados – e nos mais pequenos pormenores. Há burlões que se especializaram em sacar dinheiro na hora de dar ou receber o troco, por exemplo.  Identificada pela GNR, este tipo de burla acontece normalmente em cafés, minimercados e farmácias. Os burlões agem em grupo e começam por manifestar interesse num produto barato, pagando com notas de alto valor (na maioria das vezes de 500, 200 e 100 euros). Quando recebem o troco, alegam que o produto afinal é mais caro do que esperavam e desistem da compra. Solicitam então a nota com que pagaram e, ao mesmo tempo, devolvem o troco que receberam da vítima. Mas não o devolvem todo: sem que a vítima tenha reparado, já surripiaram parte das notas ou das moedas do troco. E muitos comerciantes facilitam a vida ao burlão, já que não confirmam o valor. 

 “A maior parte dos suspeitos identificados por esta burla são de origem romena, mas já têm aparecido portugueses”, lê-se no último relatório da GNR sobre diversos tipos de burlas praticados em 2012, ano em que foram registados 12 casos em todo o país. 

Os idosos são, de longe, os mais  afectados pela astúcia dos burlões (798 vítimas). “Os suspeitos alegam que vão acabar os euros, lhes vão aumentar as reformas, dar acesso a medicamentos mais baratos ou vêm para fazer entregas de encomendas”, aponta fonte oficial da GNR.

sonia.graca@sol.pt