Especialistas alertam para os perigos dos ‘meets’

Uma atenção mediática e policial sobre encontros de jovens pode ter “o efeito perverso” de estimular a violência, alertou hoje um especialista em assuntos juvenis.

Essa atenção, explicou, pode afastar dos encontros de jovens "alguns que apenas pretendem uma participação e um momento agradável de sociabilidade com outros colegas que estão mais ou menos na mesma situação", e "desencadear a presença de outros jovens" que "pretendem reproduzir" deliberadamente alguns actos de violência.

Em declarações à agência Lusa o antropólogo Daniel Seabra disse ainda que havendo maior mediatização e suspeitas de violência vai haver também "maior pressão sobre a polícia", que assim poderá ter tendência para "agir na lógica da detenção, para mostrar trabalho". "E isso afasta os que estão e que não querem violência".

Daniel Seabra, especialista em culturas juvenis e professor da Universidade Fernando Pessoa, considera normal os encontros de jovens, os chamados "meets", depois de um deles ter levado à actuação da polícia na semana passada, num centro comercial de Lisboa.

"É um processo normal e que se enquadra num tipo de sociabilidade que estes jovens procuram, criando para isso determinados espaços e tempos que promovem a sociabilidade entre eles", diz o especialista.

Quando prevalece uma retórica de promoção da juventude enquanto sinónimo de futuro e possibilidades, e num momento em que "essas promessas de futuro se esvaem numa situação de total crise" sem que os jovens possam atingir a "condição social de adultos", diz Daniel Seabra que esses encontros são ainda mais importantes.

É que, explica, a crise leva ao prolongamento da condição de jovem, "o que leva os jovens a procurar uma sociedade alternativa" que lhes confira uma determinada identidade e que permita um processo de integração. 

"Neste contexto é compreensível que os jovens organizem contextos de espaço e tempo, que são estes meetings, encontros que permitem promover a sociabilidade e a partilha da sua própria condição juvenil", diz o professor, acrescentando que são encontros de sociabilidade, de partilha de gostos e de criação de sentimento de pertença.

Daniel Seabra não vê nos "meets" "o exercício e o objectivo declarado de levar a cabo acções violentas" mas adverte que as mesmas até poderão surgir, "não de forma intencional e planeada" mas decorrentes "de efeitos perversos do próprio encontro".

Uma história de rivalidade que descambe em confronto físico, ou a contestação de regras que pode levar a excessos são exemplos de Daniel Seabra para os "efeitos perversos" dos "meets", embora frisando que estes encontros "têm um objectivo claro que não está de acordo nem visa a violência".

Na sexta-feira a PSP de Lisboa também já tinha dito acreditar que os encontros marcados por jovens através das redes sociais não têm cariz violento ou criminal, ainda que acrescentando que vai estar atenta aos próximos encontros.

Na última quarta-feira, na sequência de um encontro de jovens em Lisboa, registaram-se incidentes com a polícia que acabaram com quatro detidos e ferimentos em cinco polícias e num jovem.

Lusa/SOL