Emoções associadas a memórias podem ser mudadas

Um estudo realizado no Japão e nos EUA concluiu que as emoções associadas a recordações podem ser alteradas para permitir suavizar acontecimentos dolorosos do passado e evitar que ensombrem momentos de felicidade do presente.

"Esta capacidade (de reversão) da memória é utilizada clinicamente para tratar" doenças mentais, no entanto, "os mecanismos neurais e os circuitos do cérebro que autorizam esta mudança de registo emocional permanecem muito desconhecidos", salientam os investigadores, no trabalho publicado pela revista científica Nature.

A investigação, desenvolvida pelo instituto Riken, no Japão, e pelo Massachussets Institute of Technology (MIT), nos EUA, pretendia "desmontar" estes processos subjacentes, e abrir a porta a novas pistas para tratar patologias como a depressão ou o stress pós traumático, que afecta, por exemplo, os militares.

O estudo "valida também o sucesso da psicoterapia actual", explicou o director da investigação, Susumu Tonegawa, Prémio Nobel da Medicina em 1978.

Os cientistas utilizaram uma nova tecnologia de controlo do cérebro de ratinhos através da luz, chamado "optogenética", para melhor compreender o que se passa quando se mudam as memórias de bons ou maus momentos e se é possível mudar o sentimento (negativo ou positivo) associado a esta lembrança.  

Os resultados demonstram que a interacção entre o hipocampo, parte do cérebro que tem um papel central na memória, e a amígdala, uma espécie de armazém de reacções positivas e negativas, é mais flexível do que se pensava até agora.

A investigação baseou-se na inscrição de memórias, através de experiências positivas, num grupo, e negativas, no outro, sendo depois activadas artificialmente estas lembranças, ao serem submetidos a acções opostas.

A nova experiência "dominou" a emoção inicial. "Fizemos um teste (…) e a crença original desapareceu", descreveu Susumu Tonegawa.

No entanto, este fenómeno só conseguiu ser observado quando se tratava do hipocampo, sensível ao contexto ambiental, e não foi possível condicionar a amígdala.

Lusa/SOL