O papel dos mais velhos

Já tratei brevemente deste tema na semana passada, mas ele merece outro desenvolvimento.

Quatro decanos do PS – Almeida Santos, Jorge Sampaio, Vera Jardim e Manuel Alegre – juntaram-se num pequeno-almoço para declararem o seu apoio a António Costa.

Fizeram-no num momento escaldante da luta interna, com os candidatos, quais gladiadores, a usarem de inusitada agressividade nos ataques pessoais, e as respectivas candidaturas a trocarem acusações de fraude.

A propósito, não deixa de ser curioso que, tendo Mário Soares lutado contra as fraudes eleitorais no salazarismo, estas venham a verificar-se no próprio partido que fundou!

A História prega destas partidas…

Mas enfim, neste período conturbado da vida do PS, que tem aberto na carne dos socialistas portugueses feridas profundas – muito difíceis de sarar -, era natural que os mais velhos e experientes assumissem um papel moderador e apaziguador.

Almeida Santos, Sampaio, Vera Jardim e Alegre decidiram, porém, fazer o contrário, tomando partido por um dos candidatos em confronto.

Ora, que necessidade havia de o fazerem?

Se o PS estivesse na iminência de ser tomado de assalto por um aventureiro, sendo necessário dar tudo por tudo para conseguir a sua derrota e eleger uma figura credível, ainda se compreenderia essa atitude.

Mas tal não é o caso.

Com a agravante de que, na fase final da liderança de Sócrates, quando este já denotava sinais preocupantes de desequilíbrio que punham em causa o futuro do partido e a própria governação do país, nenhuma destas personalidades veio a público mostrar a sua inquietação.

Por que o fazem agora? Por que razão Almeida Santos sentiu necessidade de apoiar um candidato contra o outro?

Não deveria ele, que foi presidente do PS e é hoje presidente honorário, manter a neutralidade até ao fim?

Não é isso que se espera de um presidente (mesmo honorário)? 

E Jorge Sampaio?

Faz algum sentido um ex-Presidente da República, que tinha passado a outro patamar da intervenção política, vir a terreiro meter-se na guerra interna do partido?

Imaginamos Cavaco Silva, por exemplo, quando sair de Belém, a envolver-se nos conflitos intestinos do PSD?

Já os casos de Vera Jardim e sobretudo de Manuel Alegre são diferentes.

Alegre sempre foi um lutador, um emotivo, uma espécie de D. Quixote, e dele espera-se sempre que exponha o peito às balas.

Ninguém espera dele sabedoria e moderação.

Mas de Almeida Santos e Jorge Sampaio esperava-se mais.
Esperava-se que, neste momento dramático de divisão interna, fossem factores de unidade e não de desunião agravada.

Ajudassem a manter o partido unido para as batalhas futuras – em lugar de contribuírem para o partir ainda mais.

Mais bom senso revelou António Guterres, que se manteve sabiamente afastado deste combate e acima da guerra fratricida.

Dir-se-á que isso constitui a prova de que está a reservar-se para a candidatura presidencial.

Pode ser isso – mas não necessariamente.

Julgo que, qualquer que fosse a sua posição e quaisquer que fossem os seus planos, Guterres não se envolveria.
Depois de deixar a liderança do PS, ele percebeu que não faria sentido, nem seria de bom-tom, andar a apoiar este contra aquele. 

Percebeu aquilo que Almeida Santos e Sampaio não perceberam: que personalidades que atingiram no partido ou no país um determinado estatuto devem ter uma postura institucional e não sectária.

Que as bases se engalfinhem, se insultem, se arranhem, se agridam, alinhando por um ou por outro como se fossem o Benfica e o Sporting, compreende-se.

Que os decanos entrem nesse jogo de claques, isso não é de todo compreensível.

O apoio de Sócrates

José Sócrates tem vindo a declarar na RTP o seu apoio incondicional a António Costa.

Não sei avaliar a importância deste apoio.

Se estivesse no lugar de Costa, preferiria que Sócrates não falasse de mim.

Primeiro, porque isso pode atrair alguns votos mas também provoca fortes rejeições.

Depois, os socratistas vão querer no futuro cobrar esta ajuda.

Mas a atitude de Sócrates levanta outra questão: como se explica que continue a ter uma trincheira de combate político na televisão pública?

Marcelo e Marques Mendes também têm tribunas – mas em estações privadas.

E, além disso, mantêm um distanciamento em relação ao Governo que Sócrates não mantém  em relação ao PS, não se abstendo de participar activamente na luta interna do partido.

Os privilégios que José Sócrates continua a ter são um mistério!

Os debates na TV

Os dois debates televisivos entre Costa e Seguro tiveram desfechos diferentes.

No primeiro Seguro venceu, no segundo Seguro perdeu.

Ficou claro que o grande problema de Seguro é a imagem: diga ele o que disser, não convence.

Parece sempre frágil e inseguro.

Às vezes, quando se vitimiza, parece prestes a romper a chorar.

Costa tem uma imagem mais sólida e também mais cínica.

Quanto a propostas, os dois equivaleram-se: zero.

Dizem que querem reanimar a economia e ter uma voz mais forte na Europa.

Mas reanimar a economia, todos querem; o problema é saber como isso se faz.

Quanto à voz forte na Europa, só podemos sorrir: não foi o que Hollande também disse, com os resultados conhecidos?

jas@sol.pt