O triunfo de Costa visto pelo comentário nacional

António Costa ganhou de forma inequívoca as primárias do PS com 67,88% dos votos. E a opinião geral dos comentadores parece ser a de que o primeiro-ministro Pedro Passos Coelho tem agora a vida mais complicada.

O triunfo de Costa visto pelo comentário nacional

O antigo líder do PSD Marcelo Rebelo de Sousa afirmou ontem na TVI que “acabou a papa doce para Passos Coelho em termos de líder da oposição”. Para o comentador, António Costa “é um adversário temível”.

Resta saber “como responde o PSD à capacidade de mobilização do PS, como é que muda caras”, afirma Marcelo, defendendo uma remodelação do Governo.

Já o ex-primeiro-ministro socialista, e apoiante acérrimo de António Costa, José Sócrates afirmou ontem na RTP que as primárias não foram apenas uma questão interna do partido e que o resultado tem "significado nacional".

No mesmo painel estava o social-democrata Nuno Morais Sarmento que disse que "Sócrates continuará a ser um elemento importante" no PS. Declaração que o socialista se sentiu na obrigação de clarificar, descartando um possível retorno à vida política do seu partido. "Não é o meu regresso a nada. Esta é uma vitória de António Costa", sublinhou.

A eurodeputada socialista Ana Gomes disse ter "sentimentos mistos" em relação aos resultados de ontem. “É uma grande vitória do PS e da democracia ter havido tanta gente a participar e a votar”, afirmou na Antena 1. “Por outro lado, como apoiante de António José Seguro tenho pena, porque apoiei-o por convicção, por pensar que tinha feito um trabalho importantíssimo de recuperação do partido depois da grande derrota em 2011”, acrescentou.

Apesar de reconhecer as qualidades de António Costa para ocupar a função de líder do PS, a eurodeputada considera que o partido e o país não precisavam da crise que atribui ao agora candidato socialista a primeiro-ministro.

Tom mais crítico sobre as primárias tem o ex-líder do Bloco de Esquerda Francisco Louçã, para quem as eleições só valeram a pena para Costa. “O preço foi o sistema democrático ser esburacado: no PS vigorará doravante a luta de lama entre candidatos, o partido fica irrelevante e serão as oligarquias comunicacionais a propor o rei. A democracia perdeu”, escreveu o bloquista no blogue do Público ‘Tudo Menos Economia’.

O economista acredita que o “PS entrará em 2015 com a maior das ambições: uma maioria, um governo, um presidente”. Ao mesmo tempo deixa a pergunta: “Para fazer o quê?”. Para Louçã é “aqui que começa o TPC de António Costa”.

Na mesma linha crítica, a posição oficial do PCP, enviada por comunicado, é a de que o país assistiu a "uma encenação do PS durante a campanha para as primárias do partido”.

E depois das eleições

O antigo ministro de um governo PSD/CDS Bagão Félix foi outra das personalidades a comentar o resultado da noite política de ontem no blogue do Público ‘Tudo Menos Economia’. E aproveitou para falar já do passo que se segue: “Acabadas as primárias, seguem-se as secundárias via Congresso e as terciárias com as eleições legislativas".

Para o comentador, “a possibilidade de ser poder une, mais tarde ou mais cedo, o que está desunido”, por isso acredita que não existe “perigo de uma ‘guerrilha’ encoberta”.

Bagão Félix deixou ainda uma nota final sobre o que chamou de “o fado da CML”, sublinhando que “pela terceira vez, um presidente sai antes do fim…”.

O ‘colega’ de António Costa no painel da quadratura do Círculo da SIC Notícias Pacheco Pereira começa o seu artigo de opinião no Público com a seguinte frase: “Hoje começa o ano eleitoral de 2015. O PS passou a partido de oposição”.

Pacheco Pereira além de destacar a vitória de Costa, sublinhou também a grande participação dos portugueses na ida às urnas do PS, e considera que tal aconteceu porque “a campanha teve vida, sangue, suor e lágrimas”.

Para o comentador, os aspectos mais interessantes da campanha foram “os momentos em que em vez de dois monos a recitar frases feitas que passam por ideias, os dois homens se atacaram um ao outro, revelando-se como personalidades políticas”. 

Sobre o futuro, Pacheco Pereira prevê um trabalho “difícil para António Costa”, e acrescenta que não se trata de “um mero problema de expectativas”, mas sim “um problema de realidades”.

“O objectivo do PS está longe de ser conseguido: o PS sem maioria absoluta pouco conseguirá no contexto actual”, defende.