Hong Kong: Manhã invulgarmente tranquila na metrópole financeira asiática

Hong Kong teve uma manhã atipicamente calma para a metrópole conhecida como centro financeiro e de negócios internacional, com um ambiente radicalmente diferente do cenário violento de domingo, quando forças antimotim lançaram gás lacrimogéneo sobre os manifestantes.

Hong Kong: Manhã invulgarmente tranquila na metrópole financeira asiática

Apesar de se manterem as transacções na Bolsa de Valores de Hong Kong, o mercado financeiro sentia impactos dos protestos, tal como outras praças financeiras internacionais, e o principal índice, o Hang Seng, registava perdas de 1,2% a meio da sessão, depois de na segunda-feira ter encerrado em baixa de 1,9%.

A compra e venda de acções estavam em linha com a banca e o retalho sobretudo das grandes marcas de luxo, com muitos bancos e lojas encerrados desde segunda-feira. Hoje, às 09h00 (02h00 em Lisboa), um total de 37 sucursais ou escritórios de 21 bancos tinham sido afectados pelos protestos do movimento ‘Occupy Central’ e estavam temporariamente encerrados, segundo um comunicado publicado no portal do Governo.

Por volta da mesma hora, o South China Morning Post divulgava a informação de que aeronaves sobrevoaram Victoria Harbour. “Não se sabe a razão dos movimentos, mas o seu alinhamento faz supor que seriam aparelhos do Governo ou militares”, lia-se no alerta emitido pelo jornal em língua inglesa.

A informação não foi, entretanto, passível de confirmação pela agência Lusa. Uma activista disse que poderia ser uma operação de rotina, como o transporte de doentes para um dos hospitais da cidade.

Durante a manhã, nas principais avenidas do que se seria equivalente à Baixa de Lisboa – zona entre Central e Causeway Bayway que compreende as estações de metro de Wanchai e Admiralty (sede do Governo) –, o percurso era também feito a pé pelo meio da via pública em passo descansado, como quem dá um passeio de domingo.

Manifestantes, curiosos ou transeuntes a caminho do trabalho aproveitavam para tirar fotografias nas avenidas despidas de carros e transportes públicas.

Por volta do meio-dia (05h00 em Lisboa), a polícia continuava a alinhar algumas barreiras de protecção, mas quem queria assumir uma atitude mais pró-activa galgava, sob o olhar passivo dos agentes, as grades e juntava-se ao aglomerado que se ia sentando no chão, entre barricadas improvisadas de guarda-chuvas coloridos, entretanto transformados num dos símbolos da actual vaga de protestos.

As manifestações desencadeadas pelos estudantes e entretanto apoiadas pelo movimento ‘Occupy Central’ – que, na madrugada de domingo, anteciparam a sua campanha de desobediência civil – ganharam já uma dimensão para além de todas as expectativas, reconheceram alunos e líderes pró-democracia na noite de segunda-feira em declarações aos jornalistas.

A zona de Admiralty – onde se situa o complexo de Tamar, que além das secretarias do Governo também alberga o Conselho Legislativo (LegCo, parlamento) – continua hoje a ser o palco principal das iniciativas para contrariar a decisão de Pequim, tomada a 31 de agosto, de pré-seleccionar os candidatos a chefe do Executivo.

Pelas 14h00 (07h00 em Lisboa), uma multidão voltava a ganhar forma entre as principais artérias e viadutos junto a Tamar depois de o número de pessoas no local ter baixado para menos de meio milhar quatro horas antes, segundo ‘posts’ publicados no Facebook pela “Hong Kong Confederation of Trade Unions”.

Pequenos grupos percorriam tranquilamente as passagens pedonais aéreas até às saídas embora os acessos à praça continuassem interditos, enquanto voluntários passavam a distribuir águas e toalhas molhadas para enfrentar o calor húmido que ‘ocupa’ Hong Kong. Já outros, mais dados a desafios físicos, aproveitaram para fazer ‘jogging’ no ‘circuito democrata’.

Nos preparativos para nova jornada de luta pela democracia voltavam-se a ensaiar cânticos a pedir a demissão do líder do Governo da antiga colónia britânica, CY Leung, enquanto amadores e profissionais captavam com as suas lentes o momento em fotografias e vídeos.

Aplausos e palavras de ordem eram também ouvidos e, por vezes, intercalados por manifestações espontâneas de apoio moral, como a de um grupo de oito jovens que passava entre a multidão, cada um com um caractere chinês escrito em cartões, compondo a mensagem “continuem a lutar. Continuem o protesto pacífico”.

Lusa/SOL