29% da população não tem acesso ao tratamento de esgotos

A Quercus está apreensiva com a falta de acesso de uma “grande parte” da população ao tratamento de águas residuais, salientando os problemas decorrentes da fiscalização “deficiente” de descargas em cursos de água.

Segundo Carla Graça da Quercus, o tratamento de águas residuais só chega a 71 por cento da população, ficando muito aquém dos objectivos de atingir cerca de 90% da população.

"Ainda estamos bastante aquém, já depois de três quadros comunitários de apoio e de grandes investimentos realizados", disse.

A vice-presidente da associação do defesa do ambiente falava a propósito da iniciativa organizada para marcar o Dia Nacional da Água, que hoje se assinala, e que consiste numa peça de teatro sobre o "tubo-ladrão", nome dado ao canal que desvia os efluentes que deveriam ser tratados, indo directamente para as linhas de água, que ficam contaminadas e com problemas de saúde pública.

A acção pública, realizada pelo Teatro Apollo, em Lisboa, é uma forma de alertar a opinião pública para esta situação.

Carla Graça realçou a falta de fiscalização, mas também os "casos fiscalizados, recorrentes, de equipamentos [de tratamento de águas] que não estão a funcionar adequadamente, que estão obsoletos, foram mal dimensionados, têm problemas e que precisam de ser recuperados ou até substituídos".

Perante as denúncias de descargas que chegam à associação, a Quercus contacta as autoridades, mas, segundo a responsável, "recebe como resposta a referência a este tubo ladrão e "um passa-culpas e passa-responsabilidades de umas entidades para outras".

"Detectamos esta deficiente fiscalização que não permite que se resolvam os problemas", frisou.

Carla Graça referiu-se às suiniculturas, "que são das mais poluentes" e apresentam "um défice de tratamento", mas também às indústrias de lacticínios, de produção de bagaço de óleo de azeite, ou na agro-indústria e agro-alimentar.

Quanto às estações de tratamento de águas residuais (ETAR), considerou que, "continuam a ter problemas, apesar dos investimentos realizados nas áreas de Lisboa e Porto", utilizando o tubo ladrão e o efluente vai para os cursos de água sem tratamento.

Outro exemplo, é o caso das fossas sépticas, que podem ser solução se forem adequadamente dimensionadas e fiscalizadas, se tiverem uma adequada manutenção. contudo, verifica-se que "muitas vezes, a fossa não é limpa" e os esgotos são lançados directamente para os cursos de água ou para o solo, alertou a vice-presidente da Quercus.

Lembrou que, no início do verão, Portugal estava em incumprimento da directiva de tratamento de águas residuais já que existia um conjunto de cerca de 50 aglomerados populacionais, com mais de 2.000 habitantes, sem tratamento adequado de esgotos.

Lusa/SOL