Ferro, para unir e radicalizar

A escolha de Ferro Rodrigues, esta sexta-feira eleito presidente do Grupo Parlamentar do PS, tem por trás uma estratégia que passa por colocar um histórico com peso político a responder directamente ao primeiro-ministro, com capacidade de união e um discurso mais à esquerda do que o próprio António Costa.

Ferro, para unir e radicalizar

O regresso de Ferro à primeira linha do combate político faz-se numa “lógica de fim de legislatura“, segundo um ex-dirigente socialista próximo de Costa. Quando foi anunciado o regresso do ex-líder do PS o aplauso veio de todos os lados: costistas, socráticos e também seguristas. A ideia é que Ferro Rodrigues “assuma a parte má do discurso, com ataques mais trauliteiros e radicais“, aproximando-se da esquerda, enquanto Costa se protege mais, conseguindo assim uma maior proximidade ao centro, explica a mesma fonte.

Ao SOL, em Abril, Ferro mostrava o seu posicionamento mais próximo da esquerda: “Portugal está numa situação muito grave que não se recupera com a clássica alternância entre a Direita e o PS. Tem de ser mais que um Bloco Central. Tem de ser um governo amplo à direita e à esquerda“.

Agora, assume o comando da bancada com o desafio de agregar as diferentes sensibilidades a tempo do primeiro grande teste: a discussão do Orçamento do Estado, marcada para 30 e 31 de Outubro.

“Foi a melhor escolha possível“, assume ao SOL o ex-ministro da Economia de Sócrates, Vieira da Silva, um dos novos vice-presidentes da bancada. “É uma personalidade que recolhe unanimidade no grupo parlamentar e por isso um sinal de que Costa quer unir o partido“, afirma o deputado Renato Sampaio, próximo de José Sócrates. A opinião é partilhada pela ex-eurodeputada Edite Estrela, no Facebook: “É, no actual contexto partidário, a melhor solução para unir o grupo parlamentar e prestigiar o PS no debate com o PM e com os restantes adversários políticos“.

O aplauso a Ferro é transversal. “O passado e biografia de Ferro Rodrigues falam por si. É uma excelente escolha“, disse o líder parlamentar cessante, Alberto Martins. Também João Soares, apoiante de Seguro e que foi indicado como possível  adversário de Costa no Congresso, considerou Ferro uma “boa escolha“.

O nome do ex-líder do PS chegou a ser apontado para presidente do partido, mas Costa preferiu indicá-lo para a liderança do grupo parlamentar, onde é um deputados com maior peso político sem qualquer ligação aos anteriores governos de Sócrates. Curiosidade histórica: Costa foi líder parlamentar entre 2002 e 2004, quando Ferro era secretário-geral do PS.

* com Manuel Agostinho Magalhães

sonia.cerdeira@sol.pt

manuel.a.magalhaes@sol.pt