Hong Kong: Confrontos entre estudantes e opositores à ocupação continuam

Os confrontos entre manifestantes pró-democráticos e os opositores desta ocupação continuaram este sábado depois da polícia ter negado qualquer ligação com os gangs suspeitos de incitar os ataques aos manifestantes pacifistas.

Hong Kong: Confrontos entre estudantes e opositores à ocupação continuam

“Quanto mais opressão houver por parte do Governo, mais resistência haverá para por parte do povo”, afirmou Joshua Wong, de 17 anos.

Durante a noite, foram detidas 19 pessoas, oito suspeitas de terem ligações ao crime organizado, que estavam a atacar os activistas. 12 pessoas ficaram feridas, entre as quais seis agentes da autoridades e dois jornalistas da Rádio e Televisão Pública de Hong Kong (RTHK).

Um dos jornalistas foi atacado por um homem que protestava contra o movimento “Occupy  Central”, no distrito de Mong Kok, enquanto filmava uma altercação entre apoiantes e opositores dos protestos, que usam uma fita azul como sinal de apoio ao Governo chinês – os manifestantes usam uma fita amarela.

“Os estudantes agora querem tentar controlar o Estado”, afirmou um homem que não se quis identificar. “Se houvesse um motim em Wall Street, nos EUA, eles não iam tolerar tal coisa”.

Os confrontos levaram os líderes dos activistas, maioritariamente estudantes universitários, a cancelaram os encontros que tinham agendados com o Governo.

Pequim diz apoiar a acção musculada da polícia

Pequim reafirmou hoje o seu forte apoio à polícia de Hong Kong e ao uso controverso de gás lacrimogéneo contra os manifestantes pró-democracia e advertiu que qualquer ideia de importar "uma revolução colorida" na China continental será uma "fantasia".

"Até mesmo os jovens estudantes são obrigados a respeitar a lei. As acções tomadas pela polícia de Hong Kong face ao movimento 'Occupy Central' são absolutamente necessárias para fazer respeitar a lei", escreve o Diário do Povo, jornal do órgão central do Partido Comunista chinês.

"Face aos manifestantes que ignoram as ordens da polícia, que se precipitam para transgredir os cordões de segurança, e que querem atingir os polícias com os seus guarda-chuvas (…) a polícia não tem outra alternativa senão usar o gás lacrimogéneo", continua o editorial contra o movimento pró-democrata em Hong Kong, considerado "ilegal" por Pequim.

A mobilização na antiga colónia britânica intensificou-se depois de violentos confrontos, no passado domingo, com a polícia, que tentou dispersar os manifestantes recorrendo ao uso de gás lacrimogéneo e de gás pimenta.

"Os polícias de Hong Kong dão mostras de um grande profissionalismo, as acções que eles tomam são necessárias, razoáveis e moderadas, e não há nenhuma razão para contestar a maneira como actuam para fazer respeitar a lei", acrescenta o artigo.

As forças da ordem optaram nos dias seguintes por uma maior contenção perante a designada "Revolução dos guarda-chuvas", que mobilizou milhares de pessoas, sobretudo estudantes, e tem perturbado o normal funcionamento do centro financeiro e comercial da ilha de Hong Kong e do distrito densamente povoado em Mong Kok, na península de Kowloon.

Mas os líderes estudantis acusaram os polícias de terem permitido a violência, ao fecharem os olhos, esta sexta-feira, aos ataques extremamente fervorosos contra as tendas e barricadas dos estudantes por parte de pessoas contra o movimento 'Occupy', acções essas que contaram com a participação de indivíduos suspeitos de terem ligações à máfia.

A própria polícia de Hong Kong confirmou que, entre os detidos, se encontram membros de tríades, como tinham denunciado os jovens.

"Quanto àqueles que querem importar e desenvolver, a partir de Hong Kong, uma "revolução colorida" no interior da China, eles sonham, porque isso não é mais do que pura fantasia", lê-se ainda no Diário do Povo.

Numa altura em que Pequim é actualmente descrita como estando preocupada com a propagação de apelos à subversão no país, a internet na China estava hoje fortemente censurada, descreve a agência France Presse.

Sinal do seu nervosismo, continua a AFP, é o facto de esta semana as autoridades chinesas terem detido mais de 20 militantes que tinham expressado o seu apoio aos manifestantes de Hong Kong, segundo associações de defesa dos direitos humanos.

Os protestos duram já há uma semana. Honk Kong, ex-colónia britânica, está sob domínio da China desde Julho de 1997. Pequim tinha prometido que a ex-colónia teria um chefe do Executivo, que será eleito em 2017, escolhido livremente pela população. No entanto, a China determinou no final de Agosto que os aspirantes ao cargo têm que ter o apoio de mais de metade dos votos de um comité de nomeação para se poderem candidatar.

* com AP e Lusa