Jaime Gama revoluciona o pensamento liberal português

Ou os liberais nacionais, que vivem em redor de José Manuel Fernandes e João Carlos Espada (mais o seu mítico Popper), andam muito desiludidos com o actual Governo, ou Jaime Gama deu-lhes um baile monumental, com a Conferência que organizou este fim-de-semana no CCB, através da por si recentemente presidida Fundação Francisco Manuel dos Santos.

Para já, ficou ali claro um novo cunho intelectual da Fundação, e que Gama não se limitou a substituir António Barreto à sua frente, mas também lhe deu uma marca pessoal. E apesar de Gama ser conhecido como ‘a direita da esquerda’ – esse cunho vai mais para a esquerda, do que para a direita.

Na conferência, Popper começou logo por ser abafado por Stuart Mill, com provável desgosto dos seus seguidores nacionais, que também tinham a sua influência na Fundação (suponho que José Manuel Fernandes até é da direcção).

Depois, a maioria dos participantes são filósofos que pensam a vida (pensar deve ser coisa que arrepia pessoas como Passos Coelho e José Sócrates), desde Gilles Lipovetsky a Roberto Mangabeira Hung, passando por Michael Ignatieff ou Eduardo Lourenço, juristas como Vital Moreira, escritores como Orhan Pamuk ou António Mega Ferreira, e mostraram ter um pensamento mais à esquerda. Finalmente, a encerrar a Conferência, o homem forte da Jerónimo Martins e instituidor da Fundação, Soares dos Santos, não poupou palavras contra a corrupção. Embora sem referir ninguém em concreto, este seu alegato anti-corrupção surge no momento em que todos falam de Passos Coelho e da Tecnoforma, e as suas palavras contra administradores mudos que não questionam o que se passa nas suas empresas não podem deixar de ter em conta Nuno Godinho de Matos (e a sua afirmação de que entrava calado e saia mudo de reuniões de conselhos de administração).