António Costa não me desilude

Podia desiludir, uma vez que afirmei preferir, dos dois, Seguro, pela simples razão de nunca se ter comprometido com o socratismo. E Costa fazia afirmações preocupantes quanto ao papel da ’tralha’ (com licença do Vicente Jorge Silva) socratista, ao afirmar que o PS deve assumir e respeitar toda a sua história.

Eu não estou de acordo neste ponto. Nem acho que o PS deva assumir o legado de Sócrates. Nem penso que o futuro PSD venha a assumir o legado de Passos Coelho. Afinal, embora diferentes em muitos pontos, ambos são parecidos na teimosia, nos cursos universitários da treta com que se muniram, na prática exclusividade da vida política com formação nas jotas, e em recusarem explicar o que de mais polémico fizeram – e no viverem completamente arredados da História dos partidos que conseguiram conquistar.

Claro que, no PS, há muito se considerava que Costa e Seguro haviam de protagonizar o futuro do partido. Sócrates só foi primeiro-ministro, porque na altura Ferro se demitiu, e Costa recusou avançar.

No PSD, é a incapacidade habitual para estarem sossegados, com o mesmo líder, na oposição (teriam seguramente chegado melhor e mais limpamente ao poder com Marques Mendes).

Mas voltemos ao princípio: até agora, a única falha de Costa, o não ter dito uma palavra amável a Seguro na noite das Primárias, pode dever-se apenas a um problema de etiqueta ou de educação pessoal – e não de carácter.

De resto, politicamente, julgo estar ele a agir correctamente: a nomeação de Ferro Rodrigues para a liderança parlamentar é uma boa aposta (que mostra também o desapego de Ferro, ao largar um lugar cheio de mordomias, como em Portugal é o de vice-presidente do Parlamento, para se relançar na luta política mais abaixo do que já esteve); também me parece correcta a reabsorção dos seguristas, dando-lhes uma representatividade ligeiramente superior à conseguida nas urnas (1/3); é ainda de bom augúrio negociar com estes o programa de Governo; e finalmente não me parece errado votar contra o OE do PSD-CDS, que estes decidiram aprovar sem ter em conta as posições socialistas.

Imagino que a malta de Passos, ainda por cima agora que passa os dias a fazer meas culpas pelas politicas que afirmam terem sido impostas pela troika contra a sua vontade e convicção, deve estar agora arrependida de nunca ter tratado melhor o PS, e sobretudo António José Seguro.