Semibreve, o festival que combina música e tecnologia

Um espectáculo da artista polaca Anna Zaradny assinalou, ontem à noite, o arranque da edição deste ano do Semibreve, o festival de música electrónica e arte digital que decorre em Braga, até domingo.

Ao longo dos próximos três dias vão passar pelos palcos do Theatro Circo e do GNRation alguns dos nomes mais importantes deste género musical na actualidade, incluindo Roll The Dice, Plaid, Ryoichi Kurokawa, Sensate Focus, Thomas Ankersmit e Demdike Stare.

Além da música, a programação do Semibreve apresenta ainda um conjunto de instalações e exposições, parte delas resultantes de projectos de mestrado das universidades Católica e do Minho, e que estão patentes no antigo quartel da GNR, agora convertido em centro cultural com o nome de GNRation.

O espaço, que anda há dois anos a tentar assumir-se como epicentro cultural e criativo de Braga, foi o palco do espectáculo de abertura, a cargo da polaca Anna Zaradny, que se apresenta como “artista sonora e visual, compositora, improvisadora” e cujas actuações combinam música, vídeo, fotografia, dança e objectos.

Durante 50 minutos, Zaradny – que visita Portugal pela primeira vez – encheu a sala “Black Box”, do GNRation, com os seus sons gerados a partir do computador portátil. A música, que alguém no meio da plateia disse que lhe recordava “uma cena de terror num filme de ficção científica”, conseguiu agarrar ao lugar um público dividido entre os interessados (quase todos reincidentes nestas andanças do Semibreve) e os que estavam ali só de passagem, entre uma e outra sala de exposições, que permanecem de pé, na parte de trás do espaço.

Entre os que ocuparam lugares sentados – que esgotaram –, os que optaram por sentar-se no chão e os que preferiram manter-se de pé, dois terços bem medidos da sala estavam preenchidos. Talvez umas 180 pessoas, num dia de semana em que o tempo chuvoso não convidou a grandes saídas (ainda na véspera, o temporal tinha inundado os túneis da cidade, submergindo carros e lançando o caos no trânsito bracarense).

A receptividade do público agradou à artista que, no final da actuação, em conversa com o SOL salientou que “existe um mercado para este tipo de música”, mas admitiu que se trata de “um público muito especial, que aprecia esta estética e têm uma experiência mais longa neste tipo de arte”.

O Semibreve vai já na quarta edição e, além da música, pretende ainda dar a conhecer alguma da produção científica no campo das artes digitais produzida pela Universidade do Minho. Exemplo disso é a instalação “Meet the Frumbles”, onde três bonecos de feltro robóticos falam entre si e interagem com a audiência. São acompanhados por uma actuação musical – na noite de ontem era um contrabaixo – e vão interrompendo o espectáculo com um volumoso repertório de comentários jocosos, à boa maneira nortenha.

“Optámos por usar expressões mais picantes, porque queremos que os bonecos reajam da mesma maneira que nós fazemos, quando falamos no café”, explica Luís Fraga, engenheiro de sistemas que já trabalhou na Microsoft e criou os Frumbles em conjunto com o designer gráfico António Coelho. Tudo é feito com recurso a tecnologia que encontramos, por exemplo, nos jogos de consolas, em nossas casas.

Está equipado com “uma câmara kinect, que são os olhos do sistema” e que permitem isolar, entre o público que assiste ao espectáculo, uma pessoa com quem os bonecos conversam e interagem. E há depois o cérebro “que é um computador, que controla os animatronics das criaturas”. A ideia, diz António Coelho, é fazer uma espécie de regresso às origens: “o ecrã já não surpreende mais ninguém e, então, precisamos de algo mais tangível, com os quais as pessoas criem relações. Por exemplo, as pessoas gostam do jogo Angry Birds mas precisam já do boneco físico”.

O Festival prossegue esta noite, já com a programação de concertos. Na Sala Principal do Theatro Circo actuam Karen Gwyer e Maria Mónica, às 21h30, e Roll the Dice à meia-noite, enquanto o pequeno auditório recebe o espectáculo de @C por volta das 22h45. O preço dos bilhetes varia entre os 25 e os 9 euros, podendo ser adquiridos na bilheteira do Theatro Circo.