Alcançar uma 'boa vida' para todos, em harmonia com a comunidade e a natureza – o buen vivir é uma nova forma de olhar para o desenvolvimento em emergência na América no Sul. Baseada nos valores e tradições dos povos indígenas dos Andes, surge como alternativa radical à visão de desenvolvimento neo-liberal, e é o exemplo mais citado entre os promotores do decrescimento. O buen vivir foi impulsionado por governos de esquerda progressista e integrado na nova Constituição do Equador em 2008 e da Bolívia em 2009. São as primeiras no mundo a estabelecer o direito a uma boa vida e a consagrar os direitos da natureza, estabelecendo que os ecossistemas têm direito inalienável a existir e florescer, e eliminando assim a separação entre sociedade e natureza. Em causa está uma mudança radical de paradigma nos países do Sul: de economicamente dependentes, como fontes de recursos para o mundo industrial, para benefício dos países ricos e de uma elite nacional, a um modelo pós-extractivista, priorizando o bem-estar, a comunidade e a natureza.

Cooperativa Integral Catalã (CIC)

Na Catalunha surgiu em 2008 a Cooperativa Integral, a partir do sonho de reconstruir a sociedade de baixo para cima através da auto-organização. Criticando o assistencialismo do Estado e o sistema capitalista, pretende construir um “sistema público cooperativo”, que responda a todas as necessidades das pessoas. “Reapropriar-se do público como algo comunal, gerido por todos”, explica Joan Solé, da CIC, “tomar em mãos a autogestão da saúde, da educação ou da habitação, em vez de delegar a responsabilidade no Estado”. Já são mais de dois mil cooperantes – e já lançaram mãos à obra. No transporte, têm disseminado centros de recolha e transformação de óleo usado em combustível, e colectivizado vários transportes: os veículos são propriedade colectiva, e cada um pode ser utilizador. Grupos de trabalho de ciência e tecnologia têm desenvolvido hardware livre, servidores informáticos e um operador telefónico próprios, colectivizado grandes máquinas, ou desenvolvido o uso de hidrogénio para reduzir o consumo de combustíveis fósseis. Na alimentação, envolveram uma centena de produtores que distribuem as suas colheitas directamente a cooperativas de consumidores. Em diversas regiões da Catalunha, usam-se moedas sociais próprias em vez do euro. Adquiriram ou ocuparam diversos espaços devolutos para habitação colectiva. Partilhando esta ideia de conquistar autonomia em relação quer ao Estado quer ao mercado, outras experiências de cooperativas integrais têm entretanto surgido pelo Estado espanhol e em França. Chamam-lhe “o início de uma revolução”. “Esta proposta só tem três anos, o sistema público tem 300. Não sabemos onde chegaremos, mas estamos a caminho”.

Rendimento básico incondicional

A ideia de um rendimento atribuído incondicionalmente a todas as pessoas, que cubra as suas necessidades básicas, vem ganhando força por todo o mundo. Na Europa, esta nova forma de segurança social foi objecto de uma iniciativa de cidadãos no Parlamento Europeu, e na Suíça irá mesmo a referendo. Os decrescentistas defendem que tal rendimento deverá ser financiado total ou parcialmente pela taxação sobre o impacto ambiental, desde o início ao fim de vida dos produtos. Com esta eco-taxa, o aumento do preço dos produtos afectaria sobretudo os mais ricos, que são os maiores consumidores, reduzindo o consumo ostentativo e provocando uma redistribuição de riqueza. As piores tecnologias tornar-se-iam mais caras e menos atractivas, sendo substituídas por tecnologias ecológicas alternativas. Mas uma mudança cultural seria igualmente de esperar. As pessoas passariam a poder dizer não ao trabalho, o que resultaria em menos produção, mas produção com mais sentido. Mais pessoas poderiam experimentar estilos de vida não consumistas e desenvolver actividades artísticas, ecológicas ou comunitárias.