Tudo ou nada em S. Tomé

Hoje cerca de 90 mil eleitores de São Tomé e Príncipe votam em eleições legislativas, regionais e autárquicas cujo principal desafio é garantir estabilidade política a um país que viveu 14 mudanças de Governo nos últimos 20 anos.

A eleição de um Governo para um mandato de quatro anos é a prioridade dos principais partidos escutados pelo SOL. Mas nem todos escolhem a mesma via. Patrice Trovoada, líder da Acção Democrática Independente (ADI), regressou ao país na última semana, depois de ter visto o seu Executivo derrubado por uma moção de censura em 2012.

No primeiro discurso aos apoiantes, após banho de multidão na chegada ao aeroporto, o candidato sublinhou a necessidade de uma vitória superior à de 2010: “Ouvi gritar que já ganhámos. Mas só ganhamos se for com maioria absoluta”. E repetiu a indisponibilidade em formar alianças pós-eleitorais.

O seu principal adversário, Osvaldo Vaz do histórico Movimento de Libertação de São Tomé e Príncipe (MLSTP), garante que “com ou sem maioria absoluta o MLSTP formará um Governo inclusivo, com pessoas de todos os partidos e outras sem partido”. Fradique de Menezes, cujo Movimento Democrático Força da Mudança (MDFM) pertence à coligação governativa ao lado do MLSTP, diz “não acreditar em maiorias absolutas” e apela a “coragem e honestidade num diálogo essencial para não continuar a adiar o destino do país”.

O luxo da campanha contrasta com a pobreza crónica do país. Se ADI e MLSTP revelam poder de mobilização, com centenas de apoiantes transportados para comícios em todo o país, Patrice Trovoada mostra um investimento que só encontra paralelo na campanha da Plataforma Nacional de Desenvolvimento, novo partido fundado por António Quintas, ex-membro do MLSTP que nas últimas legislativas apoiou a ADI. Ambos foram responsáveis pela ida a São Tomé de músicos lusófonos (como Anselmo Ralph), por cachés de milhares de euros.

Numa sondagem encomendada pela ADI à portuguesa Aximage, realizada em Setembro e divulgada na sexta-feira, Trovoada vence com maioria absoluta: 32 dos 55 deputados da Assembleia Nacional. A ADI só perderia no distrito de Príncipe, para  o MLSTP, segundo classificado a nível nacional com 17 deputados.

Uma equipa de observadores da CPLP, liderada pelo embaixador cabo-verdiano Luís Fonseca, vai monitorizar a votação.

nuno.e.lima@sol.pt