Portugal-China: 35 anos de cooperação e potencialidades

A cooperação entre Estados baseia-se sempre na antecipação de ganhos mútuos. Resumidamente: what’s in it for me?. A questão assume particular acuidade do caso de Portugal e da China. São países antigos e com contactos que duram há séculos. Contudo, o seu papel no mundo actual é inteiramente distinto. O que quer Portugal da China?…

O que Portugal quer da China é inteiramente claro. Acesso a mercados em rápido crescimento, que representam 1/5 da população mundial, e acesso ao oceano de capital resultante da acumulação pela China de anos e anos de excedentes comerciais maciços.

O que a China quer de Portugal é menos óbvio. Julgo que se resume numa ideia antiga do Professor Borges de Macedo, que diz mais ou menos o seguinte: «Portugal é europeu porque é ecuménico e é ecuménico porque é europeu». É este papel de porta para dois mundos – o europeu e também norte-americano e o dos países de expressão portuguesa – que a China valoriza. O valor da 'porta para o ocidente' esteve presente na compra da EDP e no acesso que esta concedeu ao accionista chinês do mercado norte-americano.

A porta para os países de expressão portuguesa – que na realidade se situa em Macau – tem a língua como chave, e representa acesso a 250 milhões de almas em todo o mundo,  que serão 300 milhões dentro de cinco a dez anos. Tão ou mais importante, Angola, Moçambique e Brasil são os países alvo de mais de 26% das novas descobertas de petróleo e gás no panorama mundial. 

Tudo isto ganha expressão no enorme interesse pelo estudo do português na China. Segundo informações do Instituto Camões, num espaço de cinco anos passou-se de seis ou sete universidades para 28 instituições onde 1.350 estudantes aprendem português, essencialmente ao nível da licenciatura. Os estudantes chineses esperam que o conhecimento da língua lhes abra portas nas empresas, jornalismo e diplomacia.

Mas este interesse pela língua não significa necessariamente interesse pelo país. Intriga-me, pois, saber  em que medida (se é que nalguma) necessita a China da  'porta' portuguesa.  Para Portugal este interrogação traduz-se na questão prática de como preservar algum eventual papel de charneira. Ou seja, como pode Portugal continuar a ser útil ou, mesmo importante, na relação entre a China e o mundo que fala português. Isto conduz-nos ao ensino superior.

Como alguém disse, o ensino superior é  a melhor das exportações pois, para além de ser rentável e de estar alinhado com as necessidades de crescimento da economia, preenche uma missão diplomática e comercial que não está ao alcance de outras formas de comércio. Difunde  pelo mundo o que de melhor existe no país, promove a nossa imagem e posição internacional, e fortalece redes pessoais de contactos que constituem um atido precioso num mundo globalizado. 

Atrair alunos chineses para estudar em Portugal é uma das melhores formas de estreitar a cooperação e mantê-la viva no futuro. E importa fazê-lo de modos que não sejam replicáveis, nomeadamente pelo Brasil. Não chega pois ter estudantes chineses a aprenderem português na China, muitas vezes ensinados por brasileiros. Para o conseguir fazer julgo que será necessário oferecer algo mais do que a língua. O que é um desafio aberto às universidades.