Sim, Cristiano Ronaldo manda na Federação Portuguesa de Futebol. E depois?

1.    Muito se discutiu sobre a influência de Cristiano Ronaldo na decisão de demissão de Paulo Bento. Rui Santos aproveitou a ocasião de imediato para mostrar que a sua tese é irrefutável: Jorge Mendes põe e dispõe na Federação Portuguesa de Futebol. Que Fernando Mendes é uma marioneta de Cristiano Ronaldo. E quando se coloca…

2.    Pois bem, será que esta nova “teoria da conspiração”, dos poderes malignos de Cristiano Ronaldo que mata e salva treinadores, é para ser levada a sério? Consideramos que sim: de facto, Cristiano Ronaldo tem um ascendente sobre a estrutura federativa – a começar pelo seu Presidente, Fernando Gomes- que não está ao alcance (nem tão pouco poderá ser comparada) de qualquer outro jogador. A opinião de Cristiano Ronaldo, os seus desabafos (privados e públicos), as suas inimizades, os seus arrufos, a sua visão para a equipa nacional – contam e influenciam as decisões das estruturas dirigentes. 

3.    Quer gostemos, quer não gostemos, é um facto inelutável: Cristiano Ronaldo não tem apenas poder dentro das quatro linhas – condiciona o jogo nos bastidores e nos escritórios da Federação. E poderia ser de outra forma? Será que Cristiano Ronaldo poderia ser um jogador como qualquer outro membro da equipa de futebol nacional? Não, não poderia. Por uma razão: Cristiano Ronaldo é, hoje, um jogador fabuloso e uma máquina de poder. De poder comercial, de poder desportivo e de poder político em sentido amplo. Nada do que Cristiano Ronaldo diz é fruto do acaso ou resulta da sua ingenuidade: não há nada de improviso, tudo é pensado ao milímetro nas várias intervenções de Cristiano Ronaldo. 

4.    Ou seja, a dimensão de Cristiano Ronaldo ultrapassa largamente a dimensão da Federação Portuguesa de Futebol e do seu Presidente. A máquina de Cristiano Ronaldo impõe-se à máquina da Federação: o que significa, por exemplo, que é inviável contratar ou manter um seleccionador nacional que se incompatibilize com Cristiano Ronaldo – ou em quem o capitão de Portugal não acredite. Conclusão: Paulo Bento saiu também devido à  pressão – e jeito de sugestão subtil – de Cristiano Ronaldo. Não surpreende. O que surpreendeu foi a incredulidade e a interrogação da grande maioria dos jornalistas e comentadores. É óbvio que Ronaldo forçou a saída de Paulo Bento!

5.    Última questão: será o poder de Cristiano Ronaldo, com os contornos atrás descritos, negativo para a Selecção Nacional? E para o futebol português? Não cremos. Pelo contrário: é positivo que Cristiano Ronaldo influencie as decisões políticas e administrativas da Federação Portuguesa de Futebol, com incidência directa nos destinos da equipa de futebol. É que Cristiano Ronaldo revela muito mais lucidez, mais discernimento, mais sensatez, mais prudência – do que muitos dos dirigentes da nossa Federação de futebol. Portanto, sentimo-nos mais seguros e confiantes tendo Cristiano Ronaldo a equilibrar o mau senso de muita gente que rodeia Fernando Gomes. 

6.    O que censuramos é que foi preciso Cristiano Ronaldo recorrer á “sugestão subtil” para provocar a saída de Paulo Bento – quando era evidente que Bento (uma óptima pessoa, que até certo ponto fez um bom trabalho na equipa nacional) tinha chegado ao fim da linha. Já não reunia condições objectivas para continuar! O insensato seria manter Paulo Bento, como muitos dirigentes da Federação defendiam! Insensato foi renovar, previamente à experiência do Mundial do Brasil, o contrato com Paulo Bento! 

7.    E conclusão: ainda bem que Cristiano Ronaldo (ao contrário do que diz o especialista em teorias da conspiração da SIC NOTÍCIAS, Rui Santos) influencia as decisões da Federação. É o homem mais prudente e sensato, que conhece o balneário e tem experiência de futebol: em boa hora, Cristiano Ronaldo permitiu que Fernando Santos assumisse os destinos da Selecção de Portugal. A dupla Ronaldo/Santos promete! Vêm aí bons tempos para o futebol português!

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De segunda a sexta-feira João Lemos Esteves assina uma coluna de opinião no SOL