Carlos Moedas, o facilitador

A 2 de Junho, um mês e meio antes da detenção e constituição de arguido de Ricardo Salgado, pairava já a sombra da falência sobre o Grupo Espírito Santo. Em desespero, a família reunida chega a um consenso para uma cartada de último recurso: um pedido de ajuda às autoridades portuguesas, para viabilizar um financiamento…

A meio da reunião, apesar de a ideia atropelar as regras da supervisão, Ricardo Salgado arriscou e ligou ao governador do Banco de Portugal, mas  Carlos Costa declinou ajudar.  O impasse gerado pela nega do governador não dura muito tempo. Há quem sugira falar directamente com a Caixa ou com o Ministério das Finanças. José Manuel Espírito Santo atira um nome: “O Moedas, o Moedas! Eu punha já o Moedas a funcionar”.

Salgado não perde tempo e liga-lhe no mesmo minuto. “Carlos, está bom? Peço desculpa por estar a chateá-lo a esta hora. Tivemos agora uma notícia muito desagradável. Tem a ver com a Procuradoria no Luxemburgo, que abriu inquérito a três empresas. Temos medo que possa desencadear um processo complicado sobre o grupo. Porventura temos de pedir uma linha através de uma instituição bancária. Seria possível dar uma palavrinha ao José de Matos, para ver se recebia a nossa gente da área não financeira? Temos garantias para dar”.

A resposta, desta feita, é positiva. O então secretário de Estado adjunto do primeiro-ministro diz a Salgado que vai falar com o presidente da CGD, José de Matos, e revela que conhece o ministro da Justiça do Luxemburgo, o luso-descendente Feliz Braz, e que vai tentar pô-lo em contacto com o Grupo Espírito Santo. Salgado desanuvia: “Ele abrir a porta para nós o contactarmos é excelente. Obrigado, Carlos, um abraço”.

Salgado recupera ânimo e relata o diálogo ao grupo. “O Carlos Moedas conhece o ministro luxemburguês de quem é amicíssimo. Vai tentar contactá-lo para ver se nós o podemos contactar. Enfim, é uma coisa simpática. Ao José de Matos vai também tentar contactá-lo, mas não sabe se o apanha hoje”.

Finalmente boas notícias para o grupo, mas há ainda quem sugira alternativas noutras instituições financeiras. É sugerido o recurso a bancos estrangeiros mas a demora que esse processo acarretaria faz com que encerrem essa página.

José Manuel Espírito Santo aponta uma possibilidade dentro de portas: “Podias falar com o BCP”. “Com o BCP já falei. Ficou de contactar a Rita Barosa (alto quadro do BES e ex-secretária de Estado de Miguel Relvas). Já houve contactos, mas para os hotéis, não para a linha”, responde Salgado. 

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