Justin Chambers: ‘Sou o género de pessoa que faz as coisas mal’

Chambers é, há dez temporadas, o impulsivo Dr. Alex Karev da Anatomia de Grey. Numa mini entrevista a um grupo de jornalistas, em Londres, o actor contou como a estabilidade lhe permitiu ver os cinco filhos crescer. Com a saída de Cristina Yang (interpretada por Sandra Oh), admite-se que Dr. Karev possa ter mais protagonismo.…

Justin Chambers: ‘Sou o género de pessoa que faz as coisas mal’

É uma das personagens-chave e está na série desde o início. É muito importante que as caras mais antigas se mantenham ao fim de dez temporadas?

Sim, mas é igualmente importante ter trunfos novos. Logo no início, a série ganhou uma enormidade de espectadores e agora esta geração mais nova tem trazido também outros espectadores. Há miúdos de 13, 14 anos que vêm ter comigo a dizer que seguem a série e tenho a certeza que isto tem muito que ver com estes actores mais novos. Mas é preciso ver que esta é uma série em que as pessoas investiram imenso nas suas personagens ao longo de dez, 11 anos, e continuam interessadas no trabalho que fazem porque as audiências são muito altas para um produto que dura há tanto tempo. E a produção tem feito questão de se esforçar por manter todos os actores que querem permanecer na série. E eu gosto dessa segurança e de poder continuar a trabalhar com estas pessoas.

O que acha que mantém a mística da Anatomia de Grey?

Há imensos elementos, mas acho que o mais relevante é o sexo. E também a parte médica. Não há nada mais dramático e dramatizável do que o conflito entre a vida e a morte. E há todos estes doentes a entrarem no hospital e com os quais temos que lidar. É uma coisa com a qual também temos de lidar na vida real, de diversas maneiras. O lado da equipa hospitalar em confronto com os pacientes e os acidentados e o facto de haver quase sempre uma lição a extrair do desenvolvimento do episódio é muito aliciante e viciante para o espectador.

Ao longo dos anos a sua personagem evoluiu, como acontece a qualquer pessoa na vida real. Deu conselhos sobre o desenvolvimento da personagem?

De vez em quando. O passado do Alex sempre me intrigou. Sempre quis que trouxessem o passado dele à luz do dia, e não apenas de forma verbal. E convidaram o James Remar – que é um actor fantástico e fez um papel incrível – para fazer de pai de Alex. E ver aquela história investigada e ele poder fazer as pazes com o pai foi muito interessante de representar. Isso foi a única coisa em que chateei os argumentistas para escreverem. E acho que ainda há mais para desenterrar do passado do Alex. Há a mãe e o irmão, e uma irmã que poderá aparecer na próxima temporada.

É muito crítico com a sua personagem?

Talvez eu seja do género de formar opiniões e julgar. No princípio julgava-o muito, mas ele era um pouco mais bidimensional. Mas agora que sou mais velho, compreendo-o. E à medida que a história foi avançando vimos a razão de ele ser assim e isso ajuda a ver – literalmente a ver, e não apenas a ouvir – que ele veio de um lar desfeito e não sabe como se comprometer e tudo isso. E agora que tenho esses dados, já não o julgo de forma tão severa.

Ao fim de dez temporadas a Anatomia de Grey continua a ser uma referência obrigatória. Quais eram as suas referências em miúdo?

Six Million Dollar Man, The Bionic Woman e O Incrível Hulk.

Não trabalhou com a Lindsay Wagner [protagonista de Bionic Woman] recentemente?

Sim, trabalhei. Estava muito entusiasmado. Frequentei um curso de teatro de um mês que ela deu em Los Angeles. E percebia-se que tanto ela como as outras pessoas que lá estavam perguntavam-se o que raio estava eu a fazer ali. Mas a verdade é que interpretar uma personagem durante dez anos, com o mesmo tipo de diálogo, pode dar-nos alguns pontos, mas por outro lado faz-nos muita falta um regresso às raízes da representação. Às vezes precisamos de 'get back to the basics'.

Mas é estranho estar numa sala com uma pessoa pela qual teve uma paixoneta?

Sim, muito. Mas ficámos amigos, ligo-lhe de vez em quando. E é estranho eu dizer isto, porque como actor devia saber melhor do que ninguém: ela é muito diferente das personagens que faz. É muito inteligente e espiritual.

Shonda Rhimes, a autora da série, gosta de finais muito dramáticos, como catástrofes ou acidentes. O que acha deste tipo de soluções?

Matar toda a gente pode ser realmente desagradável. Mas depois ela também tem desfechos muito subtis. É a escrita da Shonda. Ela é capaz de criar estes personagens extraordinários cheios de defeitos que uma pessoa segue e quer saber o que lhes vai acontecer. Ou cenas espantosas de acção como a do bombardeamento, por exemplo.

Os seus cinco filhos vêem-no como o Dr. Alex Karev ou reconhecem o pai?

Para eles eu sou o pai, muito simplesmente. Mas eles cresceram a ver-me na série, por isso acho que não pensam muito nisso. Quando vêm ao set, o que agora é muito raro, só querem gelados e andar por ali. A minha filha tenho a certeza de que quer ver o Jesse Williams [Jackson Avery na série]. Um tipo giro de olhos azuis. Trabalhar numa série assim tem sido super benéfico para mim, porque posso conciliar o trabalho com os filhos. Enquanto muitos actores não sabem o que estarão a fazer no mês seguinte, ou têm de viajar imenso, eu tenho estado em casa. Passamos onze meses por ano em casa e durante um mês viajamos para qualquer sítio juntos. E por outro lado, ser actor e não me preocupar com a conta da electricidade tem sido muito bom também.

Tem alguma gaffe memorável ou alguma coisa que tenha corrido horrivelmente mal?

Sou o género de pessoa que faz as coisas mal. Mas tenho um problema, quase como o Síndrome de Tourette, em que quando não consigo pronunciar certas palavras desato a praguejar. No final das temporadas, a equipa de filmagem reúne isso tudo e mostram-me. O que é bastante horrível. 

telma.miguel@sol.pt

* a jornalista viajou a convite da Fox International Channels