Passos Coelho e o exemplo de Churchill

Mais do que ganhar ou perder as legislativas de 2015, Passos Coelho está, acima de tudo, preocupado em chegar a Outubro do próximo ano como o primeiro-ministro que conseguiu fazer sair Portugal de uma emergência de resgate financeiro, evitando a bancarrota iminente deixada por Sócrates. E que levou mesmo o país “pela primeira vez em…

Ou seja, Passos quererá ser visto como o primeiro-ministro que não hesitou em aplicar medidas difíceis e impopulares para cumprir a palavra e os compromissos assumidos – mesmo que, tal como Churchill, venha a perder eleições depois de salvar o país… Segundo alguns sectores da maioria PSD/CDS, é esta a visão messiânica da política em geral (e de si próprio) que explica a intransigência de Passos perante propostas facilitistas e a sua indiferença face a pressões eleitoralistas. 

Como foi agora o caso da sua obstinada oposição, no interminável Conselho de Ministros de sábado, à descida de 3,5% para 2,5% na sobretaxa do IRS. Medida que era defendida há meses por Paulo Portas, Pires de Lima e o CDS em geral. E que estes se convenceram, erradamente, de estar já pré-aprovada.

Mas, aqui chegados, convém relativizar as proclamações de virtude política de Passos Coelho e dar algum desconto às suas palavras. Por exemplo, quando Passos não poupa uma indirecta a Portas: “Eu sei que há políticos que acham que as eleições se ganham baixando impostos e aumentando salários. Mas este é um Orçamento de realismo, não é um Orçamento feito a pensar em eleições”. Ora, a verdade mal escondida é que Passos vai mesmo aumentar salários em 2015 aos funcionários públicos, devolvendo-lhes 20% dos cortes, e baixar impostos a muitos milhares de pensionistas que deixarão de pagar a CES em ano de legislativas.

Como é evidente, qualquer uma destas medidas tem maior eficácia e impacto eleitoralista do que teria uma quase imperceptível baixa de 1% na sobretaxa do IRS. Passos diz não estar a pensar em eleições, mas lá vai concedendo antecipadamente algumas benesses a mais de metade do eleitorado. Só para evitar qualquer “fanatismo orçamental”, claro. 

jal@sol.pt