Cidade sueca vai mudar-se para 3km a Leste

Não parece a Aldeia da Luz, até porque há muita falta dela. E também não é a construção de uma barragem que está em causa, como esteve no caso da aldeia alentejana. Kiruna, a cidade sueca mais a Norte do país, já perto do Círculo Polar Árctico, vai mudar-se por inteiro para um lugar situado…

O motivo: não ser ‘engolida’ por uma mina de ferro vizinha, cuja produção aumentou exponencialmente nos últimos anos devido à ‘fome’ imobiliária mundial. A mina, explorada pela Companhia Luossavaara-Kiirunavaara (KL), já é a principal fornecedora de ferro para a Europa e há mais de dez anos que avisa que a sua actividade pode pôr em causa a existência de Kiruna. E, no fundo, a mesma empresa que criou a cidade, em 1900, pode ser a impulsionadora da sua destruição.

O motivo é o modus operandi da empresa, que tem de fazer perfurações a grandes profundidades que avançam, ano após ano, cada vez mais perto da cidade. Kiruna corria o risco de se afundar e as autoridades planeiam, pelo menos desde 2004, a ‘transplantação’ da cidade. O plano, entretanto, já está feito, mas muitos habitantes duvidam da eficácia e da capacidade da KL cumprir o prometido – a empresa restitui a cada um dos 23 mil habitantes o valor correspondente à sua casa mais 25%.

Alguns cidadãos estão cépticos, pois dizem que estes valores não acompanham a tendência do mercado, em que as casas são mais caras. Alguns ateliês de arquitectura apresentam propostas para a nova Kiruna, atesta o diário britânico The Guardian: “Ou a mina parava as actividades e criava desemprego generalizado ou a cidade tem de mudar-se, sob pena de extinção. É um dilema existencial”, diz Krister Lindstedt, da White Architects, a empresa que se encarregou desta tarefa de titãs.

Mas a cidade vive em suspenso desde 2004. Uma antropóloga local, que trabalha em conjunto com os arquitectos que têm a mudança a seu cargo, confessou ao Guardian que o tempo parece ter parado em Kiruna. “As pessoas vivem no limbo há dez anos. Têm as vidas em suspenso, e são incapazes de tomar grandes decisões, como comprar casa, ter um filho ou abrir um negócio”.

A mudança, que as autoridades suecas entendem ser ‘a mais democrática da História’, pode desentorpecer os habitantes e prepará-los para outras perspectivas de vida. Mas a identidade de Kiruna – construída porque havia ali uma mina, num local pouco apetecível, com invernos longos sem a luz do sol e uma temperatura média de -15º C – parece seriamente comprometida. Os arquitectos, mais optimistas, falam numa “reinvenção” da cidade. 

ricardo.nabais@sol.pt