27.º round: Ronaldo VS Messi

Ayrton Senna e Alain Prost não teriam o mesmo encanto um sem o outro. Björn Borg e John McEnroe, tão-pouco. Anatoly Karpov e Garry Kasparov, idem. E o mesmo é válido para Joe Frazier e Muhammad Ali. Ou Larry Bird e Magic Jonhson.

27.º round: Ronaldo VS Messi

A história está recheada de atletas que se engrandeceram reciprocamente nas várias modalidades, mas nunca o desporto-rei tinha vivido uma rivalidade tão intensa como a que hoje protagonizam Cristiano Ronaldo e Lionel Messi. 

Pelé não foi contemporâneo de Cruyff, Cruyff não defrontou Maradona e Maradona já se tinha retirado quando apareceram Zidane e o brasileiro Ronaldo. Mas Cris e Leo são do mesmo tempo – e hoje, no clássico da Liga Espanhola entre Real Madrid e Barcelona (17h, SportTV 1), vão ser adversários pela 27.ª vez.

“São dois dos melhores de sempre, não apenas desta era. Daqui a 30 anos estaremos a falar sobre eles e o debate será se o melhor de todos os tempos é Messi, Ronaldo, Pelé ou Maradona”, declarou há dias o ex-jogador do Real Madrid e do Barcelona Michael Laudrup.

A antiga estrela do futebol dinamarquês juntou-se às vozes que recusam tomar partido entre Ronaldo ou Messi. E, valorizando a luta entre os dois talentos pelo estatuto de melhor do mundo, expôs o que é cada vez mais uma opinião generalizada: “Penso que precisam um do outro. Se um marca um hat-trick, o outro vai logo tentar superá-lo”.

Em vésperas do clássico espanhol, as energias do argentino e do português estiveram centradas na Liga dos Campeões, a meio da semana. O recorde de golos na competição está à beira de cair e tanto Ronaldo como Messi podem destronar Raúl. “Sei que vou bater o recorde, não estou preocupado. O importante foi a vitória da equipa”, disse o português após a vitória de quarta-feira sobre o Liverpool.

Ao marcar um dos três golos do triunfo merengue em Anfield Road, Cristiano passou a somar 70 na prova-rainha da UEFA, menos um do que Raúl. Messi chegou aos 69, depois de também ter feito o gosto ao pé na vitória do Barcelona perante o Ajax. 

'Estão a olhar-se de lado'

No clássico de hoje, há outros recordes em ponto de mira. Messi está a dois golos de superar Telmo Zarra como melhor marcador da história do campeonato espanhol – o presidente da Liga de Clubes chegou a sugerir a paragem do jogo para lhe prestar homenagem se fosse caso disso, mas Carlo Ancelotti, técnico do Real, considera a ideia descabida – e a Ronaldo falta-lhe um hat-trick para ultrapassar o mesmo Zarra e também Di Sféfano como o jogador que marcou mais vezes três golos num só jogo.

“Cristiano e Messi estão a marcar uma época e nós somos privilegiados por estarmos a viver uma das maiores batalhas individuais de todos os tempos”, sublinhou há uma semana Jorge Valdano, ex-jogador, treinador e dirigente do Real Madrid, antes de constatar a ideia cada vez mais enraizada: “Messi é extraordinário e Ronaldo não se cansa de buscar a perfeição. Estão a olhar-se de lado e isso alimenta a ambição de ambos”.

Ao contrário do extremo do Real Madrid, que já admitiu que “um puxa pelo outro”, o avançado do Barcelona nunca assumiu ser movido por esta luta particular. “A minha mentalidade é apenas a de conseguir mais a cada ano. Se ele [Ronaldo] não existisse, eu estaria a tentar a mesma coisa”, afirmou à revista Time, em 2012. Esta semana veio reiterar que não compete com o português, defendendo que “os prémios individuais são os menos importantes”. 

O certo é que, desde que se enfrentam em Espanha, os números dos dois dispararam. Para dar um exemplo, Ronaldo somava 15 golos em 52 jogos na Liga dos Campeões antes de ingressar no Real Madrid e no clube espanhol leva 55 golos em 54 jogos. Já Messi acumulava 17 remates certeiros em 33 encontros antes de ter a companhia do rival madeirense no país vizinho, tendo depois disso marcado por 52 vezes em 56 partidas.      

O pai do jogador do Barça rendeu-se às evidências. “Se Messi melhora com Cristiano? Penso que sim. Não digo sempre, mas há momentos em que a rivalidade os faz crescer”, reconheceu na semana passada.

O 27.º round entre os dois, incluindo jogos de clubes e selecções, está longe de se resumir a uma luta privada – nesse campo o argentino segue em vantagem. Com Bale e James Rodríguez de um lado e Neymar e o regressado Luis Suárez do outro, não faltam outros trunfos para decidir o clássico de hoje. Mas o apetite insaciável de Ronaldo e Messi será sempre o primeiro foco de atenção enquanto se desafiarem um ao outro.

rui.antunes@sol.pt