Encruzilhadas alemãs

A Alemanha foi um Estado tardio na Europa e ressentiu-se disso. As terras alemãs foram as grandes vítimas da devastação da Guerra dos Trinta Anos e, no século XVIII, as tensões entre Viena e Berlim dividiram os ‘povos germânicos’. As guerras napoleónicas também os dividiram, bastando lembrar essa singular aventura dos oficiais prussianos – incluindo…

A unidade estatal tardia, conseguida por Bismarck com a proclamação do II Reich em Versalhes, em 1871, arrastara a exclusão da Alemanha dos movimentos de expansão ultramarina. Exclusão que, com a Conferência de Berlim de 1884-85, tentou recuperar.

A Alemanha, quase 'império do Meio' da Europa, teve sempre uma hesitação, uma ambiguidade, entre Ocidente e Oriente, entre olhar o seu destino nas terras do limite da Euroásia – Ucrânia, Rússia Branca e mais para Leste – ou, como os outros poderes europeus do século XIX, virar-se para o vasto mundo. Foi a polémica lebensraum versus weltpolitik, que dividiu as elites estratégicas da reunificação.

O problema – e Bismarck percebeu-o bem – era que o lebensraum significava guerra com a Rússia, e a weltpolitik, guerra com os anglo-franceses. O chanceler tentou tornear o problema, acenando a S. Petersburgo com a solidariedade das monarquias conservadoras e garantindo aos anglo-franceses as colónias existentes.

Conseguiu-o, enquanto esteve no poder, mas Guilherme II não o conseguiu. Encorajou uma política de abertura a países como a Pérsia e o Império Otomano, só que, em 1914, tinha contra a Alemanha, russos, ingleses e franceses.

Hitler seguiu o mesmo caminho quando lançou a ofensiva contra a União Soviética em 1941, sem ter conseguido vencer ou negociar com a Inglaterra, após o fracasso da Guerra Aérea.

A nova Alemanha reunificada no pós-Guerra Fria – e a Guerra Fria acabou também com a destruição do Muro pelos berlinenses – parece agora buscar equilíbrio: hegemonia na eurolândia mas abertura à weltpolitik. Berlim vai mantendo boas relações com Pequim e Moscovo, fazendo isto desde o fim da Guerra Fria, depois de se ter independentizado do protectorado americano (então necessário para fazer frente à URSS).

Além de uma relação muito especial com a Rússia (que a crise ucraniana ensombrou, mas não pôs em causa), a Alemanha tem cuidado da relação com a China: é o maior exportador de tecnologia para a China com milhares de empresas e projectos e mais de 2.000 companhias chinesas instaladas na Alemanha. O comércio bilateral em 2013 passou dos 140 mil milhões de euros, sendo alemãs mais de metade das exportações da União Europeia. Também as relações culturais são importantes, com o Goethe Institute em Pequim e Hong Kong e 14 delegações do Confúcio na Alemanha.

É interessante esta 'terceira via' da nova Alemanha, distanciando-se, na política, de um certo compromisso euro-americano e procurando manter uma relação preferencial com dois dos BRICS, numa linha de realpolitik.