Maria Luís, a ministra que consegue não ser a má da fita

A prestação de Maria Luís Albuquerque na apresentação do Orçamento do Estado (OE) para 2015 leva nota artística dos sociais-democratas. O PSD vê na ministra das Finanças alguém que está a ganhar peso político e consegue passar a mensagem. Maria Luís é, cada vez mais, a ‘anti-Vítor Gaspar’. E isso é visto como uma coisa…

Maria Luís, a ministra que consegue não ser a má da fita

“Maria Luís tem mais tiques de Paulo Portas”, brinca um deputado social-democrata, rendido ao talento da sucessora de Gaspar de dar más notícias puxando sempre pelo lado mais positivo. No último Orçamento antes das eleições e depois de ter sido evidente a tensão entre Portas de um lado e Maria Luís e Passos do outro em torno da sobretaxa do IRS, as capacidades de comunicação da ministra das Finanças eram mais necessárias do que nunca.

Expectativas cumpridas

“Ela é boa a comunicar, vamos ver se consegue passar a ideia de que este é um Orçamento com menos austeridade”, comentava um deputado, minutos antes da primeira apresentação do documento, ainda preocupado com o efeito das notícias em torno da não redução imediata da sobretaxa do IRS.

Ao fim de várias intervenções públicas sobre o OE2015 desde a entrega do documento na Assembleia da República, Maria Luís Albuquerque não defraudou as expectativas das hostes laranja.

“Ela sabe passar a mensagem das partes boas e amortecer as partes más”, aponta Guilherme Silva, que vê em Maria Luís Albuquerque “grande inteligência, bom senso e muito tacto”, qualidades que a terão ajudado a cumprir “uma missão quase impossível” como a de apresentar os cortes e a austeridade como parte da 'cura' que os portugueses precisam.

Numa altura em que o PSD parece cada vez mais sensível ao “que se lixem as eleições” de Passos Coelho, a boa imagem de Maria Luís é vista como um trunfo. É que, apesar de Maria Luís ter sido quem mais disse 'não' à reinvidicação de Portas de baixar já em 2015 a sobretaxa de IRS em 1%, entre os sociais-democratas é claro que a imagem que a ministra passa para a opinião pública é bastante mais simpática do que a do seu antecessor.

“Se Gaspar era a cara da austeridade, Maria Luís Albuquerque é a cara da saída da austeridade”, resume o deputado social-democrata, Duarte Marques, que acha que o género da ministra não será alheio a esta boa imagem. “É a diferença de ser mulher”, diz, acrescentando outros pontos à avaliação das qualidades de uma comunicadora que o deputado acha “espectacular” na forma como se dirige aos jornalistas e ao público em geral. 

“Gaspar era muito sério, mais monocórdico, um catedrático a falar. Maria Luís fala de uma maneira que toda a gente percebe”. O resultado é claro: “as pessoas simpatizam muito mais com ela”.

Quem a viu abrir a conferência de imprensa de apresentação do OE com um “o Governo decidiu não aumentar impostos” e responder com desenvoltura a perguntas difíceis sobre os problemas que persistem na despesa, ficou impressionado com a habilidade política de alguém que se iniciou nestas lides como secretária de Estado de Vítor Gaspar neste Governo. 

E não é difícil encontrar deputados sociais-democratas prontos a tecer-lhe elogios, mesmo depois do balde de água fria de um Orçamento que não traz a boa notícia de um alívio fiscal para o ano das eleições legislativas. “Ela não comete erros”, sublinha Duarte Marques.

Para Carlos Abreu Amorim, Maria Luís tem conseguido destacar-se por ser “muito segura, convicta e frontal”.
O percurso que Maria Luís Albuquerque fez desde que sucedeu a Vítor Gaspar na pasta das Finanças é, aliás, para Carlos Abreu Amorim, a prova de que a ministra “soube ocupar muito bem o seu espaço político” e afastou as dúvidas que rodearam a sua nomeação. 

“Quando há um ano Maria Luís subiu a ministra, fartaram-se de dizer que não tinha peso político”, recorda o deputado social-democrata, que hoje a vê como uma “figura incontornável” na vida política. 

“Basta dizer que, desde essa altura é cada vez mais respeitada e requisitada por variadas instâncias internacionais, tendo sido mesmo desejada para fazer parte da nova Comissão Europeia”, aponta o deputado.

Guilherme Silva considera mesmo que Maria Luís Albuquerque terá um papel importante no futuro. “Há poucas pessoas como ela na política. São raros os que conseguem reunir as qualidades que ela tem”, analisa o deputado do PSD, que acha que, “para quem começa uma carreira política como ela começou na pasta difícil que lhe coube, não serão muitos os desafios que lhe sejam inultrapassáveis”.

Líder para a era pós-Passos?

Com tantos elogios, não falta quem olhe já para Maria Luís Albuquerque como uma estrela em ascensão, com capacidades para chegar à liderança do PSD. Mas, no partido, as declarações sobre o futuro da ministra das Finanças são mais cautelosas do que a avaliação sobre a forma como tem conduzido a pasta que recebeu de Vítor Gaspar. “Temos um líder sólido, não vale a pena fazer cenários”, atalha Duarte Marques.

“Vai ser, com certeza, uma figura com um papel importante na era pós-Passos”, admite um deputado social-democrata, explicando que esse papel poderá ser ainda mais importante num cenário que está cada vez mais na cabeça dos militantes do PSD, mas que ninguém quer assumir já publicamente. “Se Passos Coelho perder as eleições e António Costa não tiver maioria absoluta, vai ser importante ter alguém capaz de conseguir fazer pontes e estabelecer acordos de incidência parlamentar”, comenta a mesma fonte.

margarida.davim@sol.pt