Mourinho, o embaixador bélico

“Ter inimigos não é um problema para mim”. Há até quem acredite que faz parte da estratégia. José Mourinho é há anos o maior embaixador dos treinadores portugueses no estrangeiro e o seu estilo corrosivo, aliado ao sucesso por onde passa, arrasta ódios de estimação.

Esta semana saltou da toca o ex-seleccionador francês Raymond Domenech, que no seu novo livro, apesar de nunca ter defrontado o português, critica-lhe o “ego desmesurado” com uma referência depreciativa ao seu anterior ofício no futebol: “O problema dos tradutores é que acabam por se convencer que são eles que escrevem os textos”.

Ao longo da carreira, não têm faltado elogios a Mourinho por parte dos que com ele trabalham. Os jogadores, mesmo os que são menos utilizados, tendem a dizer maravilhas do técnico de Setúbal.

Mas ao fim de 700 jogos, completados na última terça-feira com a vitória do Chelsea sobre o Shrewsbury Town, para a Taça da Liga Inglesa (2-1), a colecção de inimigos também é cada vez maior. Ainda agora arranjou mais um em Inglaterra, por sinal bem feroz: o irlandês Roy Keane, antigo capitão do Manchester United, temido dentro de campo por adversários e companheiros de equipa pelo seu feitio irascível.

Keane é hoje técnico adjunto do Aston Villa e, desde que Mourinho o tentou cumprimentar antes do apito final do jogo com o Chelsea, há três semanas, ainda não deu tréguas perante uma iniciativa que qualifica como “desgraçada”. O português dirigiu-se ao banco de suplentes contrário para saudar a equipa técnica do Villa quando o Chelsea vencia por 3-0, mas com o jogo ainda a decorrer, o que foi interpretado como falta de respeito. Ninguém o cumprimentou.

Mourinho reagiu à sua maneira: disse que não via qualquer problema no seu gesto e garantiu que vai continuar a fazer o mesmo sempre que considerar apropriado. E bola para a frente que a seguir a uma polémica há-de vir outra.

A nível de resultados, a segunda passagem pelo Chelsea começa a dar frutos. A equipa está cada vez mais sólida  defensivamente e, ao contrário da época passada, assume a iniciativa do jogo na maior parte do tempo. Lidera isolada a Premier League, sem derrotas.

No duelo a meio da semana com o Shrewsbury, do quarto escalão de Inglaterra, Mourinho chegou às 170 vitórias em 256 jogos pelos blues (66,4%). No total da carreira, soma 471 triunfos (67,3%).

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