Londres populosa

Na região metropolitana de Londres vivem cerca de 14 milhões de pessoas. São mais quatro milhões e meio do que as que habitam em Portugal. O turismo é constante na cidade e não parece depender de nenhuma época em particular. Não é fácil distinguir entre turistas e habitantes de Londres. Segundo informações recebidas de quem…

A colecção Wallace

Sir Richard Wallace, filho ilegítimo do quarto marquês de Hertford, deu o nome à colecção de arte que podemos ver no edifício que fica na Manchester Square, em Londres. Hertford House chegou a ser habitada pela família aristocrática de coleccionadores. A colecção, de visita obrigatória, inclui várias obras dos libidinosos Boucher, Watteau e Fragonard. Deste último podemos ver na sala de visitas oval uma das suas obras mais célebres, o Baloiço, no meio de várias outras de idêntica importância. Talvez aquilo de que gostei mais da Wallace Collection tenha sido precisamente a pouca importância dada à exposição das obras. Todas, de pequenas esculturas, pratas portuguesas, relógios em forma de cruz, ilustrações, copos e chávenas, caixinhas de ouro (concentradas numa sala, é certo), peças de mobiliário ou quadros, são de igual valor para o coleccionador. Nenhuma está em destaque e por vezes até passam despercebidas, como ia acontecendo com o Baloiço.

Em Cambridge

A abundância de pessoas em Londres continua em Cambridge, que fica a uma hora e meia de distância de comboio. A universidade fundada em 1209 e composta por vários colégios autónomos, como o King's College, o Trinity College ou o St. John's College, é de enorme interesse turístico. Há mesmo quem experimente andar de punt, um barco largo e baixo movido com uma vara, no rio Cam. A actividade chama-se punting e é anunciada com entusiasmo por estudantes, que ao fim-de-semana ganham algum dinheiro a vender visitas de barco ou a pé pela cidade. Dispensados de guias, observamos que os edifícios estão construídos a uma escala humana, nada intimidatório, rodeados por uma enorme quantidade de lojas, bares, restaurantes, barbeiros, cabeleireiros, etc. Ninguém se aborrece ali. Notámos também que as livrarias são poucas. Dentro das faculdades haverá mais escolha de livros. Se não terão sempre a Cambridge University Press mesmo à frente do King's College.

Para crianças

A profusão de pessoas implica a existência de muitas crianças. A abundância é proporcional na oferta de actividades para os mais pequenos. Em qualquer bairro há cinemas com programas para um adulto e uma criança, por exemplo, aos domingos de manhã. Os museus têm actividades pensadas para miúdos e graúdos, como os clássicos workshops de desenho em frente às obras. Desta vez, a Tate Britain oferecia um conjunto de actividades para a família, que incluía um concerto de música contemporânea, com os músicos vestidos com bata branca. Era possível fazer um passeio pelas salas com paragens em anos diferentes, com as datas escritas no chão. Miúdos e pais eram conduzidos por adultos vestidos de encarnado e ecrã preso num capacete. Quando paravam, viam o que tinha acontecido naquele ano, quem tinha nascido, etc. Tudo terminava em apoteose, numa actividade enérgica de dança moderna e interacção com as esculturas de Henry Moore. Didáctico e muito divertido.

Frank Auerbach

Durante anos, Lucian Freud coleccionou retratos e paisagens de Londres pintados em tela e ainda vários desenhos do seu amigo Frank Auerbach. Trata-se de uma das maiores colecções privadas do género e foi aceite pelo estado inglês em troca do pagamento de impostos de herança dos filhos de Lucian Freud. A colecção encontra-se numa sala da Tate Britain, estranhamente vazia, e logo a um domingo. As paisagens de Londres pintadas por Auerbach, cidade onde vive há 60 anos, em Camden Town, são barulhentas e desagradáveis à vista. Há que insistir ou passar directamente aos retratos de duas mulheres, Estella Olive West (E.O.W.) ou da sua mulher, Julia, que retratou entre 1952 e 1973. Num conjunto de três retratos a carvão, Julia surge a chorar. Não parou de a desenhar enquanto chorava. Tanto no papel como na tela, as duas mulheres parecem estar vivas. Talvez por haver algo muito físico nos retratos. Como se Auerbach estivesse sempre ali a desenhá-las.