Se Timor fosse Angola…

A história simplificada é esta. Após a independência, a ONU fez um acordo com Timor enviando vários funcionários judiciais internacionais, atendendo a que a jovem nação não tinha os juízes e magistrados que permitissem o normal funcionamento de um Estado de Direito. Algumas dezenas de funcionários da Justiça e operacionais policiais de vários países foram…

Os problemas surgiram quando os ditos magistrados começaram a investigar a acção de alguns governantes, além de terem, supostamente, defendido os interesses do país face às empresas petrolíferas. Alega o primeiro-ministro timorense, Xanana Gusmão, que os magistrados portugueses se revelaram incompetentes e fizeram Timor perder muito dinheiro, cerca de 300 milhões de euros, com os tais negócios do petróleo.

Não se percebeu se foi por essa razão que todos os magistrados da ONU colocados receberam, tal como os portugueses, ordem de expulsão. Sabe-se sim, que os portugueses foram os únicos que tiveram 48 horas para abandonar o país. Até se percebe que um país não queira que magistrados estrangeiros julguem os seus governantes, ainda que eles estivessem em Díli a pedido das próprias autoridades timorenses. E se não queriam deveriam tê-lo dito anteriormente, deixando para os magistrados da ONU apenas as questões judiciais que não envolvessem membros do Estado. Se estes aceitassem, tudo estaria em paz.

Mas não foi o que aconteceu. E não deixa de ser curiosa a maneira quase ternurenta muita da comunicação social portuguesa trata, neste conflito, Xanana Gusmão e o seu inaceitável gesto de afrontamento diplomático. Imaginemos que toda esta história se tinha passado com Angola e os seus governantes. O que diria a mesma comunicação social? Tratariam o primeiro-ministro ou o chefe de Estado angolanos com a mesma compreensão e deferência?

Parece óbvio que não. É que, na comunicação social portuguesa, além de conhecidos preconceitos políticos e ideológicos, há olhares muito diferentes consoante são as longitudes… 

vitor.rainho@sol.pt