A Sr.ª Clooney e a odisseia dos mármores gregos

Há três anos e qualquer coisa, na Primavera de 2012, tive a oportunidade de visitar a Grécia pela primeira vez. Em Atenas, almocei com a minha família no terraço do novo Museu da Acrópole, um edifício faraónico que custou perto de 140 milhões de euros. O museu possui instalações impecáveis e condições de exposição à…

Mas falta-lhe uma coisa.

No último piso, de onde se tem uma vista privilegiada para a Acrópole, exibe-se uma reconstituição rigorosa do frontão (o triângulo que coroa o pórtico) e do entablamento (a 'trave' de pedra que suporta esse triângulo) do Parténon. Nalguns sítios, quando os havia, foram colocados fragmentos originais do monumento. Noutros locais, surge um vazio propositadamente mal disfarçado, com uma indicação que diz mais ou menos isto: 'Aqui deveriam estar as obras que se encontram actualmente no Museu Britânico'.

De há uns anos a esta parte, a Grécia tem feito uma campanha aguerrida para reaver os frisos e figuras do Parténon, suscitando uma polémica que tem feito estalar o verniz nos habitualmente circunspectos círculos académicos. Gregos e britânicos acusam-se mutuamente. Mas o lado grego ganhou recentemente uma aliada que pode fazer desequilibrar os pratos da balança: Amal Alamuddin, uma advogada britânica de sucesso com origem libanesa, e que é nada menos do que a mulher de George Clooney. O próprio actor também já veio defender a devolução das esculturas ao país de origem.

Estas esculturas começaram a ser retiradas do templo (por vezes com recurso a serrotes!) no início do século XIX sob o comando de Lord Elgin, embaixador britânico junto do Império Otomano. Foram levadas de barco para Londres em várias remessas, entre 1802 e 1812. Na altura houve quem considerasse o responsável por esta empreitada um «vândalo» e a sua iniciativa uma «pilhagem», mas o facto é que as esculturas passaram a ser conhecidas por 'Elgin Marbles'. A designação não é completamente injusta: Lord Elgin financiou a remoção, o estudo e o transporte das pedras. Quando chegou a hora de as alienar, vendeu-as ao Governo britânico com prejuízo para as suas finanças, rejeitando ofertas mais generosas, uma delas de Napoleão, pois queria vê-las no Museu Britânico.

Aqueles que defendem que as esculturas devem permanecer em Londres dizem no entanto que Lord Elgin não 'pilhou' as obras: pelo contrário, salvou-as da destruição e legou-as à posteridade. Segundo eles, enquanto estiveram na Grécia as esculturas do Parténon foram, aí sim, sujeitas à deterioração e ao vandalismo, como quando o templo serviu de paiol.

Mas esses estão em minoria. Nesta disputa a simpatia vai naturalmente para os gregos, um país pequeno e espoliado de uma das suas obras-primas emblemáticas. Até em Inglaterra a opinião dominante é de que os mármores devem ser devolvidos. E a contratação da Amal Alamuddin promete tornar essa corrente ainda mais forte.
Pela minha parte, simpatizei com a causa grega até à entrada em cena da Sr.ª Clooney. A sua intervenção, secundada pelo marido, cheira-me a uma gigantesca manobra de marketing cujas verdadeiras motivações ainda desconheço. Por isso, embora até me pareça justo devolver os mármores, apetece-me dizer: deixem-nos sossegados. É uma maneira simples e eficaz de se garantir que não volta a haver acidentes.