A Marilyn ‘king-size’

Quem era Jayne Mansfield, a louríssima presença ao lado de Sophia Loren na célebre foto dos anos 50 que cruzou agora o mundo em modo viral? O decote e a presença espampanante na imagem dizem tudo. Sophia confessou, perante a perspectiva, que o seu olhar lateral para o decote da loura a seu lado não…

Humores à parte, a vida de Mansfield dava – e deu – vários filmes. Antes de ter chamado a atenção para o grande ecrã, já se distinguia pelos atributos físicos. Ainda nos tempos de universidade obteve títulos de beleza como só existem nos EUA – foi Miss Lâmpada de Magnésio ou Miss da Semana da Prevenção de Incêndios, em Austin (no Estado do Texas). Perante este cenário, a beldade só recusou um dos títulos, o de Miss Queijo Roquefort. Não lhe soava nada bem…

Porém, os galardões prosaicos ficariam por ali – outras lâmpadas brilharam quando, já casada com o primeiro marido, Paul Mansfield – cujo apelido manteria até ao fim da vida – foi descoberta e convidada para um pequeno papel para um filme de título tão dúbio quanto o seu conteúdo, Prehistoric Women (Mulheres Pré-históricas, de 1950). A futura diva norte-americana ainda andava pelos 17 anos. Apenas três anos depois, deu o salto para os palcos. E logo para uma produção de A Morte de um Caixeiro Viajante de Arthur Miller.

Mas o físico é que seria a porta de entrada para o ‘mercado’. E aqui começam as comparações com outra ex-morena, Marilyn Monroe, cujo acto de pintar o cabelo de louro platinado abriu um sem-número de portas. Jayne foi Playmate (rapariga das páginas centrais da Playboy) várias vezes no mês de Fevereiro, durante a década de 50. Marilyn também começou pela revista de Hugh Hefner. A chegada de Mansfield aos grandes estúdios coincidiu com o período de auge da ‘rival’ e o binómio Monroe-Mansfield iria traduzir-se até numa luta de estúdios. Jayne assinou com a 20th Century-Fox como sucessora natural de Marilyn em 1956. Monroe já tinha, nesta fase da carreira, um comportamento errático que o seu estúdio queria compensar com outra loura platinada.

E foi o início de uma década fulgurante. Jayne integrou sucessos de bilheteira como a comédia musical Uma Rapariga com Sorte (1956), tentando logo no ano seguinte sair da pele de loura-de-poucos-neurónios para um papel sério. Era o drama Os Náufragos do Autocarro, a partir da obra de John Steinbeck. Apesar da tentativa de sair da sua pele e explorar talentos de interpretação, a 20th Century-Fox, já então um gigante de Hollywood, começou a promovê-la como a “Marilyn Monroe king-size”. Por mais que tentasse, era uma das louras platinadas, sem apelo nem agravo.

A carreira continuou quase à razão de dois filmes por ano, até 1960. Pelo meio, mais dois casamentos e cinco filhos – as filhas mais velhas, de Mansfield e do segundo marido, Mickey Hargitay, tornar-se-iam célebres nas carreiras de modelo e actriz, respectivamente – levaram-na a recusar papéis de uma forma quase sistemática. Foi o início do declínio, mesmo depois de uma cena inédita em cinema, no filme Promises, Promises, de 1963, em que aparece nua. Era o primeiro desafio ao ligeiro desanuviamento do Código Hays, um instrumento censório que impedia, entre outras imprudências, a nudez no grande ecrã, e que vigorou de 1930 até 1968.

O mundo paralelo ao de Marilyn continuava. A mover-se num universo de três casamentos, Jayne fez gravitar em torno de si constelações de amantes. E nem John F. Kennedy, célebre presidente mulherengo, lhe escapou. Aqui, Jayne venceu a palma a Marilyn, que também frequentou os lençóis de JFK, mas algum tempo depois.

A carreira de diva e de sex-symbol terminaria abruptamente num desastre rodoviário em 1967. Seguia com um dos amantes (era ele quem conduzia) e com três filhos no banco de trás, quando o carro abalroou um veículo pesado e ficou debaixo dele. Jayne e o amante morreram, e os filhos sobreviveram com ferimentos ligeiros. Tal como Marilyn, que morreu aos 36 anos, a sua versão ‘king-size’ desaparecia antes dos 40, com 34. Até o desfecho trágico partilharam.    

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