Este não é só um diálogo de Verão

O cenário é idílico, um jardim num dia de Verão. Um homem e uma mulher parecem usufruir da tarde. Mas nem tudo o que parece é. De súbito os pássaros calam-se e o silêncio impõe-se. Começa então um diálogo entre ambos. Se de início parece fácil e fresco, apenas um diálogo de Verão, sobre o…

Os Belos Dias de Aranjuez, que terá para já uma exibição única no CCB, a 12 de Novembro, no âmbito do LEFFEST foi, conta o encenador, Tiago Guedes, um desafio de Paulo Branco. “O Peter Handke é um dos convidados. E penso que o Paulo vai produzir a adaptação ao cinema deste texto pelo Wim Wenders. Já estava afastado do teatro há uns tempos e quis experimentar”. E completa: “Agora tem sido a aventura de tentar entrar neste universo e decifrá-lo, não é simples”. 

Não sendo o universo ficcional do autor austríaco totalmente estranho ao realizador de Coisa Ruim, que conhecia alguns dos seus textos e adaptações cinematográficas, também não lhe era totalmente familiar, até porque nunca tinha visto nenhuma das suas dramaturgias. Só depois de ter dito que sim a Paulo Branco é que Tiago Guedes percebeu a dimensão do que lhe tinha sido proposto. Os Belos Dias de Aranjuez é um texto que permite diversas leituras e que tem causado alguma controvérsia pelos teatros por onde tem passado, não sendo sempre bem aceite. “É um texto profundo, complexo, que exige várias leituras. Aqui não há esse espaço, quisemos respeitar as notas do autor e as suas intenções. Mas ainda estamos num processo de descoberta”. 

Descoberta que fica também, em parte, a cargo do público que, desde logo, tem que decidir quem é este casal. “Podem ser muita coisa. Não é à toa que Handke chama às personagens um homem e uma mulher. Ele quer englobar aqui todos os homens e todas as mulheres. Até o espaço é definido como um não-espaço, um sítio que não se percebe bem onde é, se existe, se é o paraíso, um encontro depois de uma morte, um regresso. O que interessa é fazer-nos reflectir sobre esta tentativa constante de entendimento entre os dois sexos. A forma de tentarmos encontrar o amor e o porquê de nunca o conseguirmos de facto”, conclui. 

rita.s.freire@sol.pt