O impacto da legionella no dia-a-dia dos portugueses

A população das freguesias de Vila Franca de Xira afectadas por legionella está preocupada e muitos reforçaram cuidados: Inês proibiu banhos no seu ginásio, Otília foi tomar banho a Leiria e Florbela passa a ferro com um lenço.

Inês Zorro tem 54 anos, vive na Póvoa de Santa Iria e é sócia-gerente num ginásio da freguesia. Diz que "não [está] alarmada mas [está] preocupada" e tomou medidas logo na sexta-feira para "não correr riscos" no espaço desportivo que dirige.

"Não vou deixar as pessoas tomarem banho [no ginásio]. Desde sexta-feira que não permitimos lá banhos. E mesmo na sexta-feira só tinha quatro pessoas na aula de yoga que está sempre cheia. As pessoas estavam mais preocupadas em ir ao supermercado comprar águas engarrafadas", contou à Lusa Inês Zorro.

A interdição de banhos no ginásio desta monitora de yoga vai manter-se até que seja seguro e que se conheça o foco do surto de legionella, uma bactéria responsável pela Doença dos Legionários, uma pneumonia grave, cuja infecção se transmite por via aérea (respiratória), através da inalação de gotículas de água ou por aspiração de água contaminada.

Inês reconhece que está a tomar medidas "talvez exageradas", mesmo em casa: Ainda não tomou banho este fim-de-semana e pretende encher a banheira para um banho de imersão esta tarde, no sábado fez massa com água engarrafada para o almoço e até a cadela bebeu água mineral.

Também Maria Otília Ponte está a racionar os banhos e, durante o fim-de-semana, conseguiu não os tomar onde vive, na Póvoa de Santa Iria: num dos dias foi à Moita do Ribatejo e no outro aproveitou a visita à filha que mora em Leiria para tomar banho.

Maria Otília tem uma loja de roupa interior no centro comercial Serra Nova, na Póvoa, que estava manhã estava com bastante movimento. Nos cafés, as pessoas continuam a pedir a bica mas recorrem menos ao copo de água que acompanha o hábito e mais à garrafa.

Florbela Martins, que vive na mesma freguesia, estava hoje num dos corredores do centro comercial. À Lusa contou que deixou de beber água da torneira, que lava os alimentos com água engarrafada, que o banho tem sido em água fria para evitar os vapores e que, quando passa a ferro, protege a cara.

"Isto até parece ridículo, mas agora quando passo a roupa a ferro ponho um lenço a tapar o nariz e a boca para não inalar aqueles vapores", relatou.

No mesmo corredor estava também Maria Clara Braga, uma técnica superior da Segurança Social, que tenta "evitar água muito quente", está a tomar banho de imersão e diz-se preocupada porque "ainda não se sabe qual é a proveniência" da bactéria.

Esta é também a preocupação de Fernando Chaves, um vendedor de material eléctrico que estava na loja da mulher no mesmo centro comercial da Póvoa de Santa Iria: "Hoje não tomei banho com receio disso. Na minha rua há duas pessoas que foram internadas e é esquisito ser só nesta zona. Não é normal. Por mais que digam que é só por causa dos vapores…", disse, reticente.

Berta Jesus vive no Forte da Casa e diz que não está muito preocupada: "Não estou a beber água da torneira mas é mais pelos meus filhos", contou.

Em Vialonga, outras das freguesias afectadas pelo surto de legionella, o sentimento é o mesmo: há uma preocupação generalizada e cuidados reforçados, mas não há alarmismos.

Manuel Guedes, que estava a ler o jornal e a beber a bica num dos cafés da freguesia, começou por dizer que "não há motivos para alarme" e que "é preciso ter o cuidado de saber onde pode estar a infecção".

"Tenho mais medo pela minha mulher que tem problemas respiratórios. Ela costuma ir à hidromassagem em Alverca mas agora não quer ir por precaução", disse.

Na esplanada do mesmo café, Maria Adélia Ruivo mostrou a mesma calma. Contou que tem recebido alguns telefonemas de pessoas que estão fora e que é ela quem as tranquiliza.

Da Câmara, mantém-se a promessa de que a rede de abastecimento de água tem qualidade. Maria Adélia é cozinheira numa escola em Loures e diz que, "se houvesse alguma coisa grave, as escolas e os infantários eram a primeira coisa a fechar".

Também António Damas, Lúcia Ginga e António Almeida, que vivem em Vialonga, acompanham o que se passa e sabem das medidas de precaução "através dos jornais e das televisões" porque "de resto, não se sabe muito mais".

Lusa/SOL