O Brasil é diferente

As eleições de 26 de Outubro no Brasil apresentaram um país dividido. Mas que tipo de divisão? Ideológica, social, geográfica? E com que alcance?

Olhemos para os números e para as manchas coloridas, a encarnado e a azul, do mapa eleitoral do Estadão: o país aparece partido em dois blocos – Norte e Nordeste e Sul e Sudeste. O primeiro para Dilma Rousseff do PT; o segundo para Aécio Neves do PSDB. Aécio recebeu no Sudeste 25,5 milhões de votos contra 20 milhões para Dilma. A grande diferença é em S. Paulo, o mais populoso e rico Estado do país, onde Aécio passou os 15 milhões de sufrágios e Dilma se ficou pelos 8,5 milhões.

No total nacional, Dilma teve 54,5 milhões de votos e Aécio 51 milhões; houve cerca de 21% de abstenções e 6,5% de votos brancos e nulos.

A votação tem uma forte carga geográfico-social: Dilma ganhou à larga em Estados como a Baía (70% – 30%), Ceará (77% – 23%) e Maranhão (79% – 21%). São Estados com forte população rural, relativamente pobres e menos desenvolvidos. Aécio venceu nos Estados do Sul e Sudeste, como o Rio Grande do Sul (53,5% – 46,5%) e São Paulo (64% – 36%), e no Distrito Federal (Brasília, 62% – 38%).

Confirmou-se, como na Venezuela, a tendência de esquerda latino-americana para se aguentar no poder, apesar da onda de escândalos e de crises financeiras. Uma tendência que, desta vez, resistiu à polémica à volta da corrupção na Petrobrás, conhecida no Planalto.

No Congresso houve recuo do PT, num leque político quase ininteligível para os padrões políticos europeus, quer pelo número de forças políticas (há 21 grupos e partidos na Câmara dos Deputados e 15 no Senado), quer pelas suas correctíssimas e próximas designações. O PT perdeu na Câmara dos Deputados 18 lugares, passando de 88 para 70 deputados e de 14 para 12 senadores, enquanto o PMDB, seu aliado, passou de 79 a 66 deputados e de 20 a 18 senadores.

O PSDB (Partido Social Democrático Brasileiro) de Aécio, que é um 'partido de direita', passou de 53 a 54 deputados e de 11 a 10 senadores.

Assim, as eleições legislativas deram resultados diferentes das presidenciais, quer pela atomização partidária, quer pelos factores regionais.

Uma novidade forte destas eleições foram os Evangélicos. Um dos seus partidos o PRB (Partido Republicano Brasileiro) conseguiu passar de 8 a 21 deputados. Já os Democráticos, mais direitistas, tiveram grandes perdas.

Como comenta José Roberto de Toledo no seu blogue do jornal Estadão, após as grandes manifestações de rua anti-governo, depois dos inquéritos em que sete em cada dez eleitores pediam mudança, as eleições de 26 de Outubro foram uma desilusão.

A Presidente foi reeleita mas o Congresso mostrou, na sua fragmentação, continuidade de casos e etiquetas: dos 513 deputados, 290 são os mesmos, e só 4 das 27 eleições para governador trouxeram mudança.

Pela sua natureza federal de nação-continente e pelos factores de continuidade das lideranças locais – coronelismo e caciquismo -, a política brasileira é diferente.