Os advogados pronto-a-vestir

José Miguel Júdice gosta de dar entrevistas em momentos oportunos como os que prenunciam a mudança de ciclo político. E de expressar, nessas entrevistas, opiniões  na aparência politicamente incorrectas, mas na sua essência do mais convencional calculismo. Agora, a propósito de escandalosa falência do BES, veio informar-nos – não estivéssemos nós a pensar outra coisa…

Mas Júdice tenta ainda convencer os mais incautos que os problemas do GES não resultam da ganância com poucos escrúpulos de Ricardo Salgado e outros responsáveis do clã Espírito Santo, da sua negligência empresarial e sentimento de impunidade cívica, mas sim “de a família não ter sido devidamente paga depois de expropriada”. Pois…

Na mesma linha de ver o mundo às avessas e colocar as responsabilidades de pernas para o ar, já Proença de Carvalho aproveitara, há semanas, uma outra entrevista para dizer que viu “no caso BES resquícios do que aconteceu no PREC de 1975” – e não o poço sem fundo onde os Espírito Santo fizeram desaparecer milhares de milhões de euros de accionistas e depositantes. Pois…

Proença e Júdice, além de pertencerem a dois dos maiores escritórios de advogados, têm outros pontos em comum. Como o facto de serem politicamente oriundos da área do PSD e do centro-direita, mas se revelarem em regra dos maiores apoiantes dos governos socialistas. Não escondem, por exemplo, a grande proximidade e devoção pública que tiveram por Sócrates e a sua governação.

Agora, José Miguel Júdice já fez a agulha para os novos tempos que se anunciam. E apressa-se a proclamar que “António Costa é o político mais dotado da sua geração. Por esta razão, é a pessoa mais indicada para liderar o país”. E, procurando dar já a sua ajudinha, Júdice não duvida de que “as eleições legislativas deviam ser na Primavera” e não em Outubro. Pois…

Júdice e Proença são os chamados advogados pronto-a-vestir pelos poderes do dia. E adaptáveis a todas as estações.

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