Os piropos assassinos

Há uns bons anos, quando fazia a cobertura de assuntos policiais, chocava-me a ‘familiaridade’ entre vítimas e arguidos, tanto mais sempre que estávamos perante crimes de violência doméstica ou de violações. Como era, e ainda será nalguns casos, possível que uma mulher que tinha acabado de ser violada estivesse a testemunhar na presença de várias…

Nalguns casos, os ex ou actuais maridos matam a mulher e os filhos, só porque não aceitam a separação ou imaginam que andam a ser traídos. Também em muitos casos as mulheres apresentaram queixas nas polícias, mas, muitas vezes, apenas conseguiram uma chamada do 'agressor' à esquadra. O problema, de difícil resolução, é que muitos dos condenados em tribunal acabam com pulseiras electrónicas, ficando com caminho livre para se 'vingarem'…

Nos últimos anos dezenas de mulheres foram assassinadas depois de terem denunciado os maus tratos de que eram alvo. O terror parece não ter fim e dá mesmo a sensação de que aumenta de dia para dia. 

É pois neste cenário que acho insólito que a história dos piropos volte à ordem do dia e que o BE queira legislar sobre a ordinarice, nalguns casos, ou sobre o galenteio noutros. É óbvio que ninguém gosta de ser importunado com ofensas verbais grotescas. Recordo-me de há uns bons anos entrar no cinema Pathé, em Lisboa, para ver o filme Viver e Morrer em LA, com uma amiga de então, que vestia uma saia curtíssima e um top justo e com pouco pano, tendo o cinema ido quase abaixo com tanta histeria da assistência. Imaginem que entrava a Polícia para prender aquela matilha toda… Com tantos problemas graves para resolvermos, é necessário perder tempo com berros e bocas, que leva-os o vento? Parece-me uma idiotice…

vitor.rainho@sol.pt