PS confia em Costa para travar fenómeno espanhol

O partido ‘Podemos’ deixou Espanha em sobressalto, mas por cá o perigo de contágio é visto com moderada preocupação. O PS confia em António Costa para limitar a ascensão à esquerda e evitar surpresas nas legislativas.

PS confia em Costa para travar fenómeno espanhol

“A principal vantagem como líder de António Costa é justamente penetrar bem nesse eleitorado mais à esquerda”, afirma ao SOL o ex-ministro do PS, Augusto Santos Silva. Além disso, reconhece que o “mérito principal” de António José Seguro enquanto secretário-geral foi o de “manter o posicionamento do partido, impedindo o acréscimo das forças que se situam à esquerda, em particular das forças não comunistas”.

Para o ex-ministro, um fenómeno como o 'Podemos' não será possível em Portugal – pelo menos em 2015: “Não digo que se o Governo PS fracassar não criará condições a um fenómeno tipo 'Podemos', mas isso já são muitos ses”.

Por cá, a esquerda emergente – Livre e Fórum Manifesto – já admitiu poder formar Governo com o PS, o que retira força a um fenómeno semelhante ao de Espanha. E os socialistas têm conseguido bons resultados nas últimas sondagens, ao contrário do que acontece com outros partidos socialistas europeus, nomeadamente o PSOE. “O PS tem tido resistência e abrangência social, ao contrário de outros partidos na Europa. Essa força corporiza a alternativa em Portugal”, diz o deputado João Galamba.

Os socialistas acreditam que a personalidade de Costa, que já fez acordos à esquerda na Câmara de Lisboa, será determinante para conciliar as esquerdas e evitar que roubem espaço ao PS. “Poucos políticos com provas dadas em cargos executivos conseguem o reconhecimento e confiança que as pessoas têm em António Costa. Isso é uma grande vantagem”, defende Galamba, sublinhando que Costa “pode ajudar” a que as restantes forças à esquerda se configurem de forma participativa para uma alternativa de esquerda em Portugal. “Não há um discurso de diabolização do PS como há noutros países”, lembra. 

O ex-ministro e deputado Jorge Lacão frisa que as circunstâncias em Espanha são distintas, uma vez que cá “a esquerda moderada está a reforçar-se e a extrama-esquerda a entrar em declínio”. Mas também concorda que Costa “tem todas as condições de absorver uma base eleitoral muito alargada, quer à esquerda, quer mesmo à direita”.

Para o dirigente e apoiante de Seguro nas primárias, Álvaro Beleza, António Costa tem todas as condições para liderar um processo que evite um fenómeno 'Podemos'. “Costa foi escolhido candidato a primeiro-ministro, com o maior número de votos de sempre. Ele pode liderar o processo”. Beleza sustenta que “o PS não tem que ter medo de um fenómeno 'Podemos', se liderar a reforma da política em Portugal, devolvendo o poder ao povo”.

O plano de reformas de Beleza inclui a criação de círculos uninominais nas legislativas, a criação de um código de ética, introduzindo novas incompatibilidades com cargos políticos e o alargamento das primárias para a escolha de deputados e de autarcas. “O PS tem de passar a ser um partido de eleitores, em vez de um partido de militantes e deve liderar as alterações no sistema eleitoral”. Nesse caso, “Nós 'Podemos'!”, brinca.

* com Manuel A. Magalhães

sonia.cerdeira@sol.pt