Passos tem agora o ‘resultado das legislativas na mão’, diz Marcelo

A demissão do ministro Miguel Macedo dá a oportunidade a Passos Coelho de fazer a “grande remodelação” do Governo, que tem vindo a adiar. Se não o fizer agora, as próximas eleições estão perdidas, considera Marcelo Rebelo de Sousa.

Passos tem agora o ‘resultado das legislativas na mão’, diz Marcelo

Este é o segundo ex-presidente do PSD a considerar que uma remodelação extensa é a tábua de salvação de Passos para inverter a queda nas sondagens. Ontem foi Marques Mendes a dizê-lo, também num espaço de comentário, na SIC.

Marcelo diz agora que será "uma pena" se o primeiro-ministro se limitar a "tapar o buraco" de Macedo, porque as pessoas "fazem a leitura que o Governo se está a partir aos bocados", não percebendo porque, entre outros, "o ministro Crato fica".

Esta seria a ocasião para reforçar a coordenação política do Governo, diz Marcelo no seu comentário da TVI. "Já se percebeu que Poiares Maduro dá para os fundos mas não para a coordenação do Governo". E também para mudar na Justiça a desgastada ministra Paula Teixeira da Cruz (que Marcelo critica pela reacção "chapa zero" na crise dos vistos Gold) e ainda Nuno Crato na Educação.

A escolha que Passos fará nos próximos dias valerá as eleições de 2015. O PM "tem nos próximos dias o resultado das legislativas na mão", julga Marcelo.

A "grande remodelação" permitirá "retomar a energia ao Governo" e ganhar uma dinâmica que o comentador da TVI não vê actualmente. Marcelo admite que Passos opte por "cerrar fileiras", perdendo a oportunidade. A decisão passará pela resposta do líder do PSD e primeiro-ministro a uma pergunta: se quer "ganhar já ou só daqui a quatro ou cinco anos".

"Tapar o buraco"

No cenário de uma mini-remodelação apenas para "tapar o buraco" da saída de Miguel Macedo de ministro da Administração Interna, Marcelo avança com nomes e com duas soluções distintas.

A "solução simples" consiste em "ir buscar um deputado", sendo o melhor Fernando Negrão (que a partir de amanhã dirige as inquirições na comissão de inquérito do BES). Outra solução é Paulo Rangel, ex-rival de Passos e actual eurodeputado. O líder parlamentar do PSD, Luís Montenegro é u terceiro elemento possível nesta substituição directa, na opinião de Marcelo. Com o inconveniente de ser preciso escolher outro líder parlamentar para o PSD.

Mais elaborada é a transferência para o MAI de Marques Guedes, o ministro da Presidência, que teria a vantagem de vir a ser um "ministro da Administração Interna zeloso e calmo". Neste cenário, Negrão ou Rangel substituiriam Marques Guedes na Presidência do Conselho de Ministros, elabora Marcelo.

Os problemas com o CDS

Mas a remodelação alargada tem "um problema". Segundo o comentador e ex-líder social-democrata, "é só ministérios do PSD" que estão em causa. "Uma maçada" para Passos, admite, dado que além do mais é difícil convencer Paulo Portas a mexer no xadrez do Governo, prescindido de ministros do CDS.

As relações entre os partidos da coligação podem sofrer um desgaste, sendo que no início da crise dos vistos Gold se notou já alguma tensão entre PSD e CDS, nota Marcelo. O líder social-democrata, Luís Montenegro, ao não aceitar a audição no Parlamento de Miguel Macedo, sugerindo que a questão era com Paulo Portas limitou-se "a chutar para o lado". Portas "merece noutras coisas ser entalado", mas não nesta questão, diz o comentador.

O Governo "andou muito desorientado num primeiro momento", considerou.

Diz ainda Marcelo que na questão da investigação judicial aos vistos Gold, o envolvimento de figuras de topo da Administração Pública "é uma questão grave".

Estão em causa o Serviço de Estrangeiros e Fronteiras (SEF), o Instituto de Registos e Notariado, o Ministério da Administração Interna e até o Serviço de Informações de Segurança (SIS), ou seja, "tudo o que tem a ver com credibilidade e segurança" no Estado. "Quem está de fora pergunta: em quem podemos acreditar?", conclui Marcelo.

Bem esteve Miguel Macedo, ao demitir-se. "Percebeu o filme", separando o que é jurídico do que é responsabilidade política, elogiou.

manuel.a.magalhaes@sol.pt