Votos ‘entregues em mão por terceiros’ abrem polémica no BE

A moção B do BE, uma das alas críticas da actual direcção, lamentou hoje a “persistência de votos entregues em mão por terceiros” durante a votação de delegados para a Convenção do BE. Um mecanismo que leva à “arregimentação de votos”, sublinha ao SOL João Madeira.

Votos ‘entregues em mão por terceiros’ abrem polémica no BE

O BE é o único partido a permitir o voto por correspondência e, segundo a moção B, esta possibilidade “está actualmente transformada na regra de votação para os órgãos do partido e a votação via correios foi substituída pela entrega em mãos de votos de terceiros”.

Mais: na maioria das assembleias eleitorais, o número de votos presenciais foi largamente inferior aos votos entregues em mão ou via correios, denunciam os subscritores da moção B. Em Lisboa, 57% dos votos não foram presenciais e em Almada também mais de metade da votação foi feita desta forma. No distrito de Santarém a percentagem dos votos não presenciais sobe para 65% e no distrito de Coimbra este tipo de votação também foi “largamente maioritária”, referem em comunicado.

“A disputa interna levou claramente a uma arregimentação dos votos. Se retirássemos os votos por correspondência, os resultados seriam consideravelmente diferentes. As moções minoritárias são prejudicadas por estes laivos arregimentadores”, acusa João Madeira, subscritor da moção B.

Questionado pelo SOL sobre se este tipo de votação pode levar a chapelada e falsificação de votos, João Madeira refere que não, explicando que os votos são acompanhados da assinatura da pessoa e podem ser verificados telefonicamente. “Sempre que suscitaram dúvidas foi feita a verificação e, do que tenho conhecimento, não houve falsificações”, diz.

Na última Convenção do BE o voto por correspondência foi objecto de discussão e inclusivamente foram levantadas suspeitas de chapelada. Em 2012, Albérico Afonso, da moção B, afirmava que o voto por correspondência se revelava um “mecanismo de distorção democrática” uma vez que não havia “possibilidade de controlo sobre a sua idoneidade”. Os votos por correspondência “têm, pois, configurado factores de deturpação da vontade democrática e falsificação dos resultados eleitorais”, escreveu Albérico Afonso.

Para João Madeira, a questão que se coloca é que o modelo de funcionamento do partido fica distorcido. “Mesmo nos grandes centros urbanos, onde não se coloca o problema geográfico e dos transportes, há uma percentagem muito alta de votos por correspondência ou entregues em mão por terceiros. É uma situação muito preocupante, mais que chapelada leva a uma arregimentação”, conclui. Para que tal não se verificasse, a moção B propunha que a Convenção fosse aberta a todos os militantes do BE.   

A moção E, de Pedro Filipe Soares, afecta à UDP, parte à frente para a Convenção do próximo fim-de-semana, com 262 delegados eleitos. Mais seis que a moção U, da actual direcção de Catarina Martins e João Semedo. A moção B elegeu 44 delegados, a R 38 e a A 8 delegados.

sonia.cerdeira@sol.pt