Imigrantes II

No artigo da passada semana considerei que a radicalização de posições relativas a migrações, mesmo quando oriundas da UE, seria susceptível de por em causa a própria União. Notei que contextos de prolongada estagnação, elevado desemprego e de austeridade orçamental constituíam o caldo de cultura ideal para essas posições se desenvolverem e propagarem. Finalmente, apelei…

Nem de propósito: um artigo saído no número de Novembro do The Economic Journal e amplamente glosado por toda a imprensa – The Fiscal Effects of Migration to the UK, da autoria de Christian Dustmann e Tommaso Frattini – responde à questão crucial de saber se os imigrantes suportam o seu justo quinhão dos impostos e dos custos segurança social ou, se pelo contrário, ‘vivem a expensas' do comum dos contribuintes.

O facto de se centrar no Reino Unido (RU) não lhe retiram impacto pois é precisamente aí que a demagogia de uns e a pusilanimidade de outros ameaça fazer maiores estragos. Destaco três conclusões:

– A fração dos imigrantes que residiram no RU entre 1995 e 2011 e que receberam alguma forma de benefícios do Estado, abatimentos fiscais ou habitação social é inferior à dos nativos;

– O balanço das contribuições dos imigrantes europeus para o orçamento de estado é 10%  superior ao dos nativos. Este contributo positivo estende-se a todos os imigrantes chegados no século XXI, independentemente de serem europeus ou não. Ou seja, aliviam a carga fiscal dos nativos ao invés de os sobrecarregarem;

– Finalmente, os imigrantes poupam muitos dinheiros aos contribuintes ingleses por aportarem educação e conhecimentos pagos pelos contribuintes dos seus países de origem.

Um survey de 2008 revelou que 44% dos europeus considerava que os imigrantes recebiam mais do que contribuíam e apenas 15% que eles recebiam menos. Estou seguro que, desde então, esta percepção se agravou. Como vimos, a maioria não tem necessariamente razão. Mas tem sempre razões! E estas devem ser entendidas (o que não é o mesmo que acomodadas). O que torna as pessoas presas fáceis da demagogia? A crise? A ignorância? O preconceito? Ou o choque cultural que leva muitos nativos a sentirem-se estranhos numa terra estranha?