Viva a prevenção!

Há vários ditados populares que mencionam a prevenção como a justificação para medidas excepcionais: grandes males, grandes remédios, etc. Mas sempre que se fala de prevenção a seguir à irrupção de um mal nas nossas vidas, há um cheirinho a improvisação, uma tendência para radicalizar e um certo ar velho e caseiro nas medidas tomadas.…

Namorar

Todos temos segredos inconfessáveis. Mas com o passar dos anos, felizmente perdemos a vergonha e não só somos capazes de os confessar como nos atrevemos a torná-los uma virtude ou uma condição sine qua non para sermos felizes. No meu caso, embora goste de comer bem, o meu conceito de almoço ou jantar românticos não corresponde àquele que encontramos nas revistas ou nos autores especializados em gastronomia. Para não ir mais longe, durante o namoro, o meu marido gastou fortunas em restaurantes da moda, pensando que me agradaria. Só confirmei que ele era o homem certo quando percebeu o meu tédio e me levou a comer um cozido à portuguesa num restaurante normal. Partilho agora esta intimidade porque há dias tornou a levar-me a um sítio onde tinha ido mas que para mim era desconhecido. Falo da Adega da Tia Matilde. Deve haver gente que chora com aquele sublime coelho à caçador; eu apaixono-me. Não era preciso reacender a chama nunca apagada do amor.

A propósito de Keira Knightley

Se uma mulher tem o peito pequeno, sai ao pai. Se é Jayne Mansfield, é uma malcriada. Se é bonita, é frívola, egoísta e uma chata. Se não é bonita, é boa pessoa, coitada. Se é feminista, não gosta de homens. Se gosta de homens, faz o que eles lhe mandam. Se obedece, é porque não dá para mais. Se trabalha fora de casa e tem filhos, é porque não liga à família. Se trabalha fora de casa e não tem filhos, é porque só pensa na profissão. Se não casou, é por ser insuportável, feia e por ter o peito pequeno. Se não casou e tem o peito grande, é porque só quer ter amantes e é uma infeliz. Se é uma infeliz, ninguém quer viver com ela. Se faz uma cirurgia plástica, é porque não quer estar sozinha. Se não quer estar sozinha, é porque está desesperada. Se está desesperada é por não ter nada naquela cabeça. Se não tem nada naquela cabeça, é pena porque é tão bonita e até tem o peito pequeno. Sobre os homens também há algo a dizer, mas só ocupa duas linhas.

Os poliglotas

Tenho encontrado vários artigos sobre os benefícios do bilinguismo e de aprender línguas estrangeiras. Desta vez, na revista The Atlantic, os encómios a partir de estudos realizados são tantos que apetece aprender mais uma língua – chinês é útil mas russo pode não ser menos – só para ocupar o grupo daqueles que tomam melhores decisões sobre as suas vidas, gastam mais ajuizadamente o seu dinheiro e sofrem menos de demência. Saber mais do que uma língua ou até mais do que duas tem mais benefícios do que não fumar. Porquê? Por um motivo que me parece plausível: a atenção desenvolvida por aqueles que aprendem outro vocabulário, uma gramática diferente, novos conceitos e novas metáforas está mais trabalhada. Este mecanismo de atenção aos pormenores de cada língua permite que o poliglota pense de uma maneira mais ampla sobre os assuntos. Sherlock Holmes ou Hercule Poirot são dois poliglotas usados como exemplos no texto. Embora aprender hebraico?

Informações importantes

Perguntar não é fácil. É natural estarmos cansados de ouvir respostas desinteressantes mas também porque estamos habituados a ouvir perguntas óbvias, que não requerem nenhum tipo de resposta ou que se respondem a elas mesmas. No The Chronicle of Higher Education fizeram uma pergunta à qual não estamos habituados, não por causa da pergunta propriamente dita mas pela sua perspectiva. Perguntaram a vários professores universitários que livro de não ficção dos últimos 30 anos lhes mudou a cabeça. Ser um livro de não ficção é importante porque implica que não se pode fazer batota respondendo com subjectividade literária qualquer coisa como um romance de Cormac McCarthy ou José Saramago. Também é importante que o livro não tenha mais de 30 anos, porque exclui os clássicos e provavelmente inclui autores ainda vivos. As respostas bem justificadas provocam em nós, leitores profanos, uma vontade irreprimível de correr à Amazon para os comprar.