Saber perder ao jogo

Qual é a maneira mais educada de perder, não gostando eu de perder nem a feijões? Daniel Peixoto

A elegância é saber conviver, na vitória (nunca humilhar o adversário derrotado) ou na derrota (não amuar nem se tornar mal-criado). Já um meu avô dizia que o senhorio se via à mesa do jogo.

Há quem utilize truques para disfarçar o mau perder, mas ainda é pior a emenda do que o soneto. Uns tentam minimizar a derrota assegurando, por exemplo, que o xadrez “é um jogo de patetas”. Outros fingem que têm um livro de regras que lhes dá a vitória, invocando um detalhe obscuro desconhecido de todas as outras pessoas. E ainda há quem, num bridge, vá de repente à casa de banho e assegure na volta que lhe surripiaram cartas. 

Se é para fazer batota, ao menos procure ser convincente e arranje truques melhores do que estes, recuperando a suposta dignidade.

Ocorrem-me agora os livros da Mafaldinha do Quino, que acabam de ser reeditados em Portugal. Numa história em que o Felipinho estava a perder um jogo de xadrez, atirou o tabuleiro pelos ares, com ar enfadado, e garantiu que estava farto de tanta concentração. Noutra, é a Mafaldinha que, depois de perder, rapa de um papel e põe-se a ler, em tom agreste: “Fiz-te morder o pó da derrota…”. Mas logo, caindo em si quanto à inoportunidade daquelas palavras, virou o papel, e leu: “Perder, que importa? O que interessa é o desafio do jogo e a convivência com o parceiro”.

Claro que também acho estes expedientes pouco edificantes.