Ricardo Salgado fala ou remete-se ao silêncio no Inquérito ao BES?

O ex-presidente do BES estreia presença da família Espírito Santo no Parlamento em plena época natalícia. Ricardo Salgado contará a sua versão dos acontecimentos no BES, que esta semana foram apelidados de “fraudes e crimes deliberados”? Ou tal como o antigo presidente do BPN remeter-se-á ao silêncio?

Ricardo Salgado é uma das figuras mais aguardadas pelos deputados da comissão parlamentar de inquérito à gestão do BES e do GES, sendo o primeiro membro da família Espírito Santo a ser inquirido. Os grupos parlamentares querem ouvi-lo no dia 3 de Dezembro. Já no dia seguinte, 4 de Dezembro, será a vez de José Maria Ricciardi explicar, entre outros temas, a guerra de poder travada com o seu primo.

As audições não estão ainda totalmente confirmadas. Será necessário o presidente da comissão Fernando Negrão confirmar junto dos convocados a disponibilidade para as datas definidas.

São várias as teorias que circulam sobre a estratégia a adoptar por Salgado na Assembleia. Por um lado, poderá pedir uma audiência à porta fechada, ler uma declaração do seu advogado a invocar segredo de justiça e remeter esclarecimentos para o fim das audições. Esta foi, de resto, a decisão tomada por Oliveira Costa na comissão de inquérito que investigou a nacionalização do BPN. 

Por outro, suspeita-se que o ex-presidente do BES queira desde já contar a sua versão dos factos e, eventualmente, lançar para o debate novos temas ou personalidades. 

A incógnita mantém-se.

Na primeira semana de audições foram ouvidos o governador e o vice-governador do Banco de Portugal, o supervisor dos seguros e o do mercado de capitais, a ministra e o ex-ministro das Finanças. A dúvida sobre a idoneidade de Ricardo Salgado é um dos temas que reúne o consenso dos vários grupos parlamentares. 

Entre os restantes membros da família e do conselho superior do grupo Espírito Santo, seguir-se-ão Manuel Fernando Espírito Santo, no dia 10 de Dezembro, e José Maria Espírito Santo Silva, a 11 de Dezembro. 

Ricardo Abecassis e Pedro Mosqueira do Amaral irão cruzar-se no Parlamento no mesmo dia, a 16 de Dezembro. 

O comandante António Ricciardi encerra a presença da família no Parlamento no dia 17 de Dezembro.

Pedido ou pergunta?

No calendário previsto, Vítor Bento deverá esclarecer, a 2 de Dezembro, a dúvida entre “pergunta e pedido”. O responsável, que assumiu a presidência do BES após a saída de Ricardo Salgado, terá de explicar se o momento em que questionou a ministra das Finanças sobre a possibilidade de o BES ter acesso à linha de recapitalização pública se tratou de uma pergunta ou de um pedido.

Recorde-se que existe uma verba de 6,4 mil milhões de euros da troika disponível para a banca. A solução para o BES, tomada pelo governador do Banco de Portugal, incidiu na resolução da instituição, decisão anunciada publicamente a 3 de Agosto.

No mesmo dia de Vítor Bento, os deputados estimam ouvir o responsável pela KPMG, a auditora do BES.

Pedro Queiroz Pereira, apontado como responsável pela queixa que fez soar os alarmes dentro do BdP, deverá deslocar-se ao Parlamento a 9 de Dezembro.

Até ao final do ano, serão ouvidos também outros antigos administradores do BES como Joaquim Goes, António Souto e Rui Silveira. 

Ainda no dia 25 deste mês, será inquirido José Ramalho, presidente do Fundo de Resolução, cuja audição estava inicialmente agendada para dia 17 deste mês, mas teve que ser adiada.

sandra.a.simoes@sol.pt